A emergência climática deixou de ser uma previsão para tornar-se uma realidade inequívoca. O sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em 2022, já afirmava com clareza que a influência humana aqueceu a atmosfera, os oceanos e a superfície terrestre. Embora algumas consequências do aquecimento global sejam irreversíveis, a ciência também aponta que ainda há margem para ação coletiva. A mensagem é clara: se medidas urgentes não forem tomadas, a intensificação de eventos extremos e catastróficos será inevitável. Isso é o que discute artigo da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “Cidades e Meio Ambiente”.
Esse cenário já se reflete nas cidades, que enfrentam cada vez mais o desafio de se adaptar a fenômenos climáticos intensos. Especialistas alertam que a máxima “o pior desastre ainda está por vir” deve servir como guia para a formulação de políticas públicas robustas, centradas na prevenção e na criação de uma cultura de gestão de risco. No entanto, a experiência recente do Rio Grande do Sul revela uma contradição preocupante entre a urgência científica e a resposta governamental. O processo de reconstrução no estado expõe falhas estruturais no planejamento, com políticas climáticas fragmentadas e tratadas de forma dissociada das políticas ambientais. “O aumento da frequência e da intensidade de eventos climáticos extremos está forçando cidades globalmente a reavaliar suas estratégias de adaptação”, pontua Lorena Cândido Fleury, professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Coordenadora do Grupo de Pesquisa Tecnologia, Meio Ambiente e Sociedade (TEMAS).
A falta de integração entre diferentes setores da administração pública, somada à distância em relação às universidades e centros de pesquisa, amplia as fragilidades. O desastre de 2024 evidenciou como a vulnerabilidade de algumas áreas pode levar ao colapso de toda a cidade, afetando de forma desigual a população. As comunidades marginalizadas foram as mais atingidas, sofrendo desalojamento e negligência em meio ao colapso generalizado. Ignorar os marcadores sociais que amplificam a crise não apenas agrava a tragédia, mas perpetua ciclos de injustiça e vulnerabilidade.
O caso gaúcho lança, portanto, um alerta decisivo: sem uma abordagem integrada, transversal e proativa, as cidades brasileiras continuarão expostas aos impactos mais severos das mudanças climáticas. É fundamental reposicionar as políticas climáticas no centro da agenda pública, fortalecer a coordenação entre governos, mobilizar a sociedade e garantir a participação de especialistas. “A atuação da gestão pública incide significativamente para que as catástrofes não sejam evitadas ou para que seus impactos sejam amplificados”, afirma Lorena Fleury.
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