O avanço da urbanização e o agravamento da crise climática estão criando novos desafios para a vida nas cidades. Projeções da ONU indicam que, até 2050, quase 70% da população mundial viverá em áreas urbanas, o que representa um acréscimo de 2,5 bilhões de pessoas, sobretudo na Ásia e na África. No Brasil, a concentração já é elevada: em 2022, 87% da população vivia em cidades. Esse cenário amplia os riscos, já que as áreas urbanas são especialmente vulneráveis ao calor extremo e à poluição. Isso é o que discute artigo da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “Cidades e Meio Ambiente”.
Os últimos anos têm sido marcados por recordes de temperatura em escala global e nacional. Em 2024, a média global superou pela primeira vez 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais, tornando-se o ano mais quente já registrado. No Brasil, a média anual ficou 0,79 °C acima do padrão histórico, também um recorde. As ondas de calor, cada vez mais frequentes e intensas, se multiplicam: somente em 2023 e 2024, o país enfrentou nove episódios em cada ano. Em São Paulo, o aquecimento urbano é evidente — desde 1933, a média das temperaturas máximas anuais subiu 4 °C, e a máxima registrada ocorreu em novembro de 2023, quando os termômetros chegaram a 38,3 °C.
Os efeitos do calor extremo, embora menos visíveis do que enchentes ou deslizamentos, têm sido descritos por especialistas como uma “emergência silenciosa”. Estudos mostram que dias de altas temperaturas estão associados a um aumento expressivo de internações hospitalares e de mortes. Uma análise nacional indica que, entre 2000 e 2018, ondas de calor foram responsáveis por mais de 48 mil mortes no Brasil — número 20 vezes maior do que o de vítimas de deslizamentos no mesmo período. “A forma como as pessoas são afetadas pelas temperaturas extremas está conectada à realidade em que vivem”, alertam Denise Duarte e Luíza Sobhie Muñoz, professora e doutoranda da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
Apesar da gravidade, a adaptação urbana ao calor ainda avança lentamente. Iniciativas como a Operação Altas Temperaturas, da Prefeitura de São Paulo, são emergenciais e não respondem à dimensão do problema. Especialistas apontam que medidas estruturais — como a revisão do PlanClimaSP, o uso de mapas de risco, a regulação da morfologia urbana e a ampliação de infraestrutura verde — são fundamentais para proteger a saúde da população. Além de ações de planejamento, o monitoramento microclimático e a criação de redes de “oásis urbanos”, como parques e praças, podem oferecer alívio térmico e reduzir desigualdades, levando a adaptação para onde ela é mais necessária. “Uma vez melhoradas as condições socioeconômicas, a vulnerabilidade e a exposição serão reduzidas e, por conseguinte, a sua capacidade adaptativa será melhorada”, enfatizam as pesquisadoras.
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