“Queremos um sistema global de ciência mais justo”

Presidente da SBPC, Francilene Procópio Garcia discursou na abertura da 17ª Conferência Geral da Academia Mundial de Ciências (TWAS), que acontece esta semana, no Rio de Janeiro

WhatsApp Image 2025-09-30 at 10.56.52

O Rio de Janeiro recebe nesta semana lideranças científicas de mais de 70 países para a 17ª Conferência Geral da Academia Mundial de Ciências (TWAS). Realizado em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), o evento reúne, de 29 de setembro a 2 de outubro, autoridades, pesquisadores e representantes de organizações do Sul Global para debater o papel da ciência na construção de um futuro sustentável. A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Francilene Garcia, foi uma das convidadas a discursar na cerimônia de abertura.

Em sua fala, Garcia destacou a urgência de ampliar a cooperação entre os países da região e repensar como essas nações podem se organizar para enfrentar desafios como as mudanças climáticas e as transformações digitais e sociais que afetam o mundo inteiro.

“O Brasil acredita firmemente na cooperação Sul-Sul, queremos parcerias justas e iguais com a América Latina, África, Ásia e Caribe – compartilhando infraestrutura, valorizando o conhecimento local e construindo tecnologias que funcionem para nossos povos. Isso é fundamental para um sistema científico global mais justo, mais equilibrado”, declarou.

WhatsApp Image 2025-09-30 at 11.33.35Garcia ressaltou o país passa por um momento de retomada do vigor científico, expresso na elaboração de uma nova estratégia para o sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação, fruto da 5ª Conferência Nacional de CT&I, em 2024. Segundo ela, a meta é consolidar uma política de Estado que coloque a ciência no centro do desenvolvimento sustentável e inclusivo, o que inclui também a colaboração internacional entre suas prioridades.

“Nossa comunidade científica é vibrante e criativa. O Brasil é um dos maiores produtores de conhecimento científico do Sul Global e contribui em diversas áreas: no monitoramento da Amazônia e dos oceanos, no desenvolvimento de vacinas e soluções para a saúde, no avanço de energias renováveis e tecnologias digitais, e na exploração da inteligência artificial para o bem social”, acrescentou.

A presidente da SBPC também reforçou o papel histórico da entidade na defesa da ciência e da democracia, promovendo a aproximação de cientistas e colaborando para criar pontes entre pesquisa, educação, inovação e políticas públicas. Propósitos que se conectam à missão da TWAS, de conectar a comunidade científica da região e criar oportunidades de cooperação. “Que esta conferência nos ajude a trabalhar ainda mais perto, a produzir ciência de excelência e ética, e garantir que esta cooperação sirva à paz, à sustentabilidade e à dignidade de todos.”

Garcia ressaltou a importância da diversidade para uma ciência mais inclusiva e cooperativa, destacando a presença inédita de mulheres na liderança de instituições científicas – Helena Nader, na Academia Brasileira de Ciências (ABC), e Quarraisha Abdool Karim, presidente da TWAS, ao lado da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. Ao encerrar, convocou os participantes a refletirem sobre quais ‘pontes de conhecimento e amizade’ podem ser construídas para transformar o futuro de forma concreta.

Leia o discurso na íntegra abaixo:

Bom dia a todos.

Saúdo as autoridades, cientistas e convidados, com gratidão pela dedicação à ciência e à cooperação global.

Em nome dos presidentes da TWAS e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), cumprimento calorosamente todos os distintos membros deste painel, agradecendo a cada um por sua liderança e compromisso com a ciência e a cooperação global.

É uma verdadeira honra falar em nome da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência — SBPC neste momento tão importante.

Reunimo-nos hoje em um mundo que passa por mudanças rápidas e profundas. Enfrentamos crises climáticas que ameaçam a natureza e as pessoas, emergências de saúde que retornam repetidamente, desigualdades crescentes e transformações tecnológicas aceleradas que moldam nossas economias e a vida cotidiana. Essas mudanças também nos impulsionam a repensar como o mundo se organiza e como os países colaboram entre si.

O Brasil chega a este momento com energia renovada. Depois de anos desafiadores, estamos retomando o forte investimento público em ciência, tecnologia e inovação. Guiados pelo trabalho da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, estamos preparando uma nova Estratégia Nacional (ENCTI 2026–2035) e um Plano Decenal para colocar o conhecimento e a inovação no centro do desenvolvimento sustentável e inclusivo.

Nossa comunidade científica é vibrante e criativa. O Brasil é um dos maiores produtores de conhecimento científico do Sul Global e contribui em diversas áreas: no monitoramento da Amazônia e dos oceanos, no desenvolvimento de vacinas e soluções para a saúde, no avanço de energias renováveis e tecnologias digitais, e na exploração da inteligência artificial para o bem social.

A SBPC, que tenho o privilégio de presidir, há muito defende a ciência e a democracia, aproxima cientistas e sociedade, e ajuda a construir pontes entre pesquisa, educação, inovação e políticas públicas.

É inspirador ver aqui hoje três mulheres presidentes da TWAS, da Academia Brasileira de Ciências e da SBPC, junto à nossa Ministra da Ciência e Tecnologia. Isso mostra uma mudança em direção a uma ciência mais diversa, inclusiva e cooperativa.

O Brasil acredita firmemente na cooperação Sul–Sul, queremos parcerias justas e iguais com a América Latina, África, Ásia e Caribe — compartilhando infraestrutura, valorizando o conhecimento local e construindo tecnologias que funcionem para nossos povos. Isso é fundamental para um sistema científico global mais justo e equilibrado.

A TWAS é central nesse esforço, conectando cientistas de diferentes regiões e criando oportunidades. Quero enaltecer o professor Marcelo Knobel por sua liderança e por fortalecer o papel da TWAS no Sul Global.

Que esta conferência nos ajude a trabalhar ainda mais juntos, tornar a ciência excelente e ética, e garantir que a cooperação sirva à paz, à sustentabilidade e à dignidade de todos.

Ao avançarmos juntos, deixo uma pergunta: que novas pontes de conhecimento e amizade podemos construir a partir daqui para transformar nosso futuro compartilhado?

Muito obrigada.

Rio de Janeiro, 29 de setembro de 2025

Francilene Procópio Garcia

 

Daniela Klebis, Jornal da Ciência