Com o objetivo de investigar a formação de professores da educação básica no Brasil, pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca) têm se dedicado a um projeto que busca analisar como o Estado brasileiro vem definindo políticas públicas voltadas à formação e aperfeiçoamento desses professores.
Um resumo desse projeto foi apresentado pela professora e pesquisadora da área de Educação da Urca, Francisca Clara de Paula, durante mesa redonda realizada na tarde desta 5ª feira, dia 4, no campus da Urca, em Crato, sertão do Ceará.
Sob o título “O Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) e a política nacional de formação de profissionais do magistério da educação básica – uma nova regulação destinada à valorização da profissão docente?”, o trabalho vem demonstrando, na análise da pesquisadora, que “políticas não podem ser iguais para todos”, sobretudo em países tão desiguais como o Brasil.
Clara de Paula salientou que no Ceará, por exemplo, a maioria da população sobrevive com rendimentos que vão de meio a um salário mínimo. Realidade semelhante ocorre em boa parte dos estados mais pobres que se concentram nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste.
Além da questão das desigualdades sociais e econômicas, outro fator que preocupa os pesquisadores desse estudo é a sensível diminuição de matrículas em todo o sistema público de ensino fundamental e médio. “Temos um bom crescimento nas matrículas do ensino infantil, mas ainda não investigamos o motivo da diminuição de procura e ingresso nos outros níveis (fundamental e médio)”, comentou a pesquisadora.
Licenciaturas com EAD
A formação de professores com o uso de tecnologias de ensino à distância (EAD), no interior do estado da Paraíba, foi outro tema apresentado durante essa mesa redonda na Reunião Regional da SBPC. A professora e pesquisadora da área de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Rita Cristiana Barbosa, discorreu sobre o tema “Formação docente em tempos de TIC: inclusão educacional, digital e social de mulheres no interior da Paraíba”. Trata-se de pesquisa realizada com um grupo de 90 mulheres, residentes em várias cidades do Estado, que concluíram cursos de licenciaturas à distância, pela UFPB Virtual. Todas já atuavam como professoras das redes públicas, sem formação de nível superior, o que ainda acontece em várias localidades das regiões mais pobres do País.
O objetivo da pesquisa, que resultou do doutorado realizado pela pesquisadora com bolsa sanduíche na Universidade de Barcelona, foi entender como a formação com EAD contribuiu para a inclusão digital, e a compreensão cognitiva, operacional e sócio emocional das professoras interioranas. A maior parte delas, mulheres de baixa renda, com filhos, trabalham em Educação, cuidam da casa, e estudam nos fins de semana.
No relato de várias dessas mulheres, entrevistadas para a pesquisa, surgem com frequência as oportunidades que foram a elas oferecidas de, não raro, um primeiro contato com as tecnologias de informação e comunicação (TICs), o aprendizado necessário e a familiarização com o computador, e a descoberta da internet. Outros aspectos mais íntimos e afetivos são relatados pelas professoras, como a dificuldade de uso do computador que, quando existente, tem uso privilegiado pelo marido e filhos, a elas restando o uso noturno, após a lida diária e o cansaço dos outros membros da família.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por essas professoras, a maioria demonstrou que a formação nas licenciaturas por ensino à distância, possibilitou a inclusão digital e o desenvolvimento das capacidades cognitiva, operacional e sócio emocional, ainda que em diferentes níveis.
Fabíola de Oliveira – Jornal da Ciência