O potencial hídrico subterrâneo da Amazônia é objeto de estudos que já duram mais de uma década
A quantidade de água exis-tente no Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA), que conta com mais 162 quilômetros cúbicos de água, surpreendeu os pesquisadores presentes na 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O assunto foi debatido na Universidade Federal do Acre (UFAC), no final do mês de julho.
O potencial hídrico subterrâneo da Amazônia é objeto de estudos que já duram mais de uma década e envolvem as bacias hidrográficas do Acre, Solimões, Amazonas e Marajó. Somente do lado brasileiro, essa área totaliza 1.300 quilômetros quadrados. “O Brasil representa cerca de 67% desse sistema”, informa o geólogo Francisco de Assis Matos de Abreu, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Abreu diz que o SAGA é um conjunto de camadas geológicas que armazenam reservas expressivas de água, mas que a sua qualidade ainda não foi testada. Segundo ele, apesar do tempo de pesquisas, ainda não foi possível estabelecer parâmetros a respeito da utilização desse potencial. “Os dados disponíveis ainda não são totalmente confiáveis”, explica o geólogo, ressaltando que esse é um dos aspectos que precisa ser avançado. “Temos que acelerar esse processo”, afirma.
Reserva estratégica
Apesar do expressivo volume das águas subterrâneas da Amazônia, os estudos indicam que é necessário cautela por parte das autoridades. O aproveitamento a curto e médio prazo desses recursos ainda não é recomendável. “Essa reserva é importante para a manutenção do equilíbrio entre a floresta e os recursos hídricos”, avalia o professor da UFPA.
Itabaraci Nazareno Caval-cante e Milton Antônio da Silva Matta são pesquisadores que também desenvolvem estudos a respeito do SAGA e que têm opiniões convergentes com os posicionamentos do geólogo da UFPA.“Mesmo com as limitações dos dados existentes dados existentes, podemos afirmar que esse reservatório é responsável por importantes parâmetros climáticos, sobretudo o regime de chuvas”, pondera Cavalcante. De acordo com Silva Matta, o SAGA contribui com 80% da água que movimenta o ciclo hidrológico na Amazônia.
No entendimento do professor Abreu, o funcionamento das hidrelétricas está quase que totalmente ligado aos recursos hídricos da Amazônia, que contribui com uma fatia de 23% do PIB brasileiro.
Na sua análise, o geólogo da UFPA, inclui ainda, a importância virtual da água, que está embutida nos produtos exportados pelo País, como soja, café, carne bovina e laranja, por exemplo. “Isso só é possível porque temos a floresta. Essa reciclagem é um colossal serviço ambiental que a Amazônia presta para o Brasil”, destaca.
O ciclo hidrológico é o caminho que a água percorre depois que evapora do oceano Atlântico. Ela cai em forma de chuva, volta para a atmosfera pela transpiração da floresta e segue nesse esquema até bater nos Andes. Boa parte volta para o oceano, seja pelos rios ou pelo sistema de águas subterrâneas, para o reinício do ciclo.
Segundo o professor Matta, o Sistema Aquífero Grande Amazônia é praticamente uma novidade no universo dos estudos hídricos. “Até pouco tempo quase ninguém conhecia a sua potencialidade”, conclui.