Universidades e governo investem em projetos de desenvolvimento tecnológico voltados a necessidades regionais
Universidades gaúchas estão incrementando a transferência de conhecimentos e tecnologia para a sociedade. Nos últimos meses, vários investimentos deram mais fôlego ao projeto de expansão nesta área, capitaneado pelo governo estadual e batizado de Programa Gaúcho de Parques Científicos e Tecnológicos. Em maio, o Parque Tecnoló-gico da PUCRS (Tecnopuc), em Porto Alegre, passou a contar com mais dois laboratórios: o de Comunicação Global e o Laboratório de Desenvolvimento, Teste e Qualificação de Protótipos e Produto. No mesmo mês, foram inauguradas as duas primeiras unidades do Parque Científico e Tecnológico da Unisc (TecnoUnisc), em Santa Cruz do Sul; e em junho, o Parque Científico e Tecnológico do Vale do Taquari (Tecnovates), na Univates, de Lajeado.
O secretário estadual de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (SCIT/RS), Cleber Prodanov, explica que existem hoje 26 polos — projetos que objetivam o desenvolvimento de tecnologias adequadas às diferentes regiões do RS — , e 15 parques tecnológicos — áreas físicas onde estão instaladas as empresas e os centros de pesquisa e inovação. Ele garante que o Estado é pioneiro neste tipo de iniciativa e que, após a destinação de verbas para o Vale do Jaguari e para o Alto da Serra do Botucaraí, todas as regiões do Estado estarão atendidas.
A expansão não é apenas territorial, mas também financeira. “Já investimos R$ 60 milhões no programa de polos e vamos chegar a R$ 72 milhões, até o final do governo”, contabiliza o secretário, lembrando que o valor significa um crescimento de 600% em relação ao governo anterior. A explicação para esta prioridade, segundo ele, está na agilidade e capilaridade dos resultados. “É a forma mais rápida de transferência de tecnologia”, observa. “É possível melhorar a tecnologia da produção da erva-mate ou do desenvolvimento de um chip. Tudo depende do interesse da região”, assinala. Para as instituições de Ensino, complementa Cleber, as vantagens também são grandes. Além de receber verbas públicas para pesquisa, os parques garantem emprego para acadêmicos e fortalecem a atuação como difusora de conhecimento.
“A ciência tem que ter liberdade para criar e devemos garantir este espaço para o novo”, explica a secretária regional adjunta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC/RS), Maria Alice Lahorgue, referindo-se aos polos e parques científicos e tecnológicos brasileiros. Ela estava no grupo que, nos anos 90, idealizou o que hoje é o Parque Científico e Tecnológico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Passados anos de debates, em 2010 o projeto do Parque foi aprovado pelo Conselho Universitário. Hoje, possui em operação a Rede de Incubadoras Tecnológi-cas (Reintec), um complexo de quase 200 laboratórios, grande parte localizada nas faculdades. Maria Alice define o Parque como “mais científico do que tecnológico, devido à proximidade com os laboratórios”. Ela diz que esperava mais do que ele é hoje, e justifica lembrando que na incubação, por exemplo, a empresa precisa passar por três etapas. “E hoje, no parque, apenas a primeira etapa acontece.”
Tecnopucrs: avanço e novos mercados
Pouco mais de uma década foi suficiente para o Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc) cruzar as fronteiras brasileiras. O parque, inaugurado oficialmente em 2003, tem hoje 120 empresas instaladas e parcerias com 50 parques tecnológicos no mundo. Através de convênios de internacionalização, viabilizados pelo Programa de Softlanding, o parque recebeu uma unidade da start up (empresa recente em área tecnológica) GloboSense. Criada em 2012, no Reino Unido, a empresa foi a primeira estrangeira a instalar-se no parque através do programa internacional.
O diretor do Tecnopuc, Rafael Prikladnicki, revela que, no caminho inverso, duas empresas do Brasil, a Pandorga e a FK Biotec, ambas instaladas no parque, são experiências bem-sucedidas de internacionalização. A Pandorga, há dois anos no Tech City, centro criativo do Reino Unido, alcançou clientes no mercado europeu e asiático. E a FK criou a FKx no Canadá, buscando consolidar a questão da propriedade intelectual (tem patente depositada nos EUA), de aprovar a vacina contra o câncer, na América do Norte; e de ter acesso a mercados de capitais.
Voltadas ao mercado interno estão outras 120 empresas, que geram em torno de 6 mil empregos, com unidades em Porto Alegre e em Viamão. São empresas pequenas, médias e grandes, multinacionais brasileiras e estrangeiras, start ups, centros de pesquisa e desenvolvimento, associações e estruturas de pesquisa da PUCRS. “O Tecnopuc busca articular relacionamentos qualificados entre todos os atores envolvidos (empresas, governo, universidade, associações e sociedade), buscando sinergia para projetos inovadores em diversas áreas do conhecimento. Além disso, atua para promover relação direta das empresas instaladas aqui com a pesquisa realizada na Universidade”, explica Rafael, acrescentando que o parque engloba empresas das áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação, de Ciências da Vida, de Energia e Meio Ambiente, e da Indústria Criativa.
O papel do Tecnopuc, salienta, é criar um ambiente de classe mundial de fomento à inovação. “Para isso, temos diversas ações, entre elas o Global Tecnopuc, o condomínio de empresas Inovapucrs e a Incubadora Raiar.
Ufrgs precisa instalar parque
Transformar a pesquisa científica em produtos, em tecnologia e em inovação é o principal objetivo do Parque Científico e Tecnológico da Ufrgs. Apesar de aprovado em 2010, o Parque ainda não foi estabelecido fisicamente, mas, nem por isso, deixa de prestar serviços: a Rede de Incubadoras Tecnológicas (Reintec), por exemplo, já atua há mais de duas décadas em prédios da universidade e apoia projetos de pesquisa e desenvolvimento nas áreas de Informática, Engenharia e Física, Biotecnologia, Alimentos e Economia Solidária.
A área reservada para a construção do complexo é de 30 hectares, no Campus do Vale, em Porto Alegre. Entusiasta do projeto, o diretor do Parque, Flávio Wagner, diz que a intenção estratégica é que, em 2020, ele esteja entre os melhores do Brasil, atraindo dez centros de pesquisa e desenvolvimento de grande porte e de diferentes áreas. O diferencial do Parque da Ufrgs, segundo ele, é que a âncora é a própria universidade, com sua amplitude de competências, e a excelência científica e tecnológica de seus grupos de pesquisa.
(Correio do Povo) – http://www2.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=532774