A ciência para o ambiente e a justiça social foi o tema discutido durante dois dias, no sétimo e último Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência (FMC), realizado no auditório da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), no campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB), e que termina hoje. Pesquisadores e lideranças científicas de várias instituições do país, entre elas a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, fizeram um balanço dos seis encontros anteriores e adiantaram questões que serão debatidas durante o FMC, que será realizado no Rio de Janeiro, entre os dias 24 e 27 de novembro.
A SBPC faz parte do comitê de organização do FMC, que reunirá cientistas importantes de várias partes do mundo. Nesse sentido, Helena ressaltou dimensão do Fórum que será realizado no Rio. “O que vai acontecer em novembro é um megaevento, que não é grande no número de pessoas, mas na densidade de participação de pessoas do mais alto nível científico mundial”, declarou. É a primeira vez que FMC vai ocorrer fora da Hungria, seu país de origem. Para a presidente da SBPC isso demonstra a maturidade da ciência brasileira e o respeito internacional que ela já conquistou.
Durante o evento de Brasília, Helena adiantou alguns temas que deverão ser discutidos no Fórum do Rio. Entre eles, a ciência básica e a aplicada e como as duas devem dialogar; a ética e a integridade na ciência, que deverá ter uma sessão especial no FMC; a questão do envelhecimento, assunto que foi debatido no 1º Encontro Preparatório, realizado em agosto de 2012 em São Paulo e coordenado pela presidente da SBPC; as ciências do mar; a engenharia; entre outros. Além disso, serão debatidos também o financiamento da ciência e a divulgação científica. “Essa é uma questão global”, disse Helena. “Quais são os desafios e as perspectivas, como é que nós nos comunicamos para mostrar que a ciência é importante.”
Para o secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luiz Antonio Elias, que também participou do encontro de Brasília, a realização do FMC deve ajudar na percepção da capacidade da ciência de corrigir assimetrias do mundo em desenvolvimento, bem como impulsionar países africanos e latino-americanos a um novo patamar dentro da geopolítica internacional. “Com esse movimento, esperamos de fato perceber que ciência é conhecimento, mas também é acesso, inclusão, produtividade, porque nos permite ser mais capazes na nossa economia, com um interesse público por trás”, disse Elias.
Coordenador do encontro, o decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, Jaime Santana, ressaltou o caráter plural do evento. “Talvez seja o mais interdisciplinar dos sete encontros preparatórios para o fórum”, observou. “Não temos nenhuma mesa sem mistura de sociólogos, biólogos, engenheiros. O que importa é a abordagem de um tema. Entendemos que, na unidade acadêmica do futuro, o diálogo existe em todas as áreas do conhecimento.”
O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) cumprimentou a organização do evento pelos tópicos escolhidos. “Não haveria tema mais propício para o momento e para o futuro que ambiente e justiça social”, afirmou. “As manifestações de junho trouxeram pautas fundamentais, e precisamos do apoio da ciência para construir políticas públicas eficientes em mobilidade urbana, saúde, educação e redução da violência nas nossas cidades.”
Segundo o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis, o FMC vai colocar o Brasil no centro do panorama científico internacional. “Essas reuniões preparatórias regionais realmente mobilizaram o país. Isso é de uma extraordinária importância”, observou. “E o governo brasileiro tem dado todo o incentivo para que esse fórum seja memorável.”
Na opinião do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, o fórum é uma “oportunidade única para não apenas refletirmos sobre os temas discutidos no evento em si e nos encontros preparatórios, mas principalmente para nos encontrarmos com a ciência mundial mais uma vez, expondo os grandes avanços que a gente tem alcançado, e especialmente os grandes desafios que temos pela frente.”
A importância da interação entre instituições de pesquisa foi o foco da palestra da professora Mercedes Bustamante no 7º Encontro Preparatório para FMC. Ela falou sobre o tema “Conciliando conservação e desenvolvimento: o papel de redes regionais de pesquisa e pós-graduação”. “A partir do momento em que você favorece essa interação, ela traz um diversidade de olhares e de conhecimentos que permite elaborar novas ferramentas de análise, novas abordagens que o grupo isolado talvez demorasse mais tempo para encontrar”, disse a docente do Departamento de Ecologia da UnB.
Durante a apresentação, em que abordou as mudanças ambientais globais, Mercedes destacou a estratégia do MCTI de incentivo às interações institucionais na troca de conhecimentos capazes de gerar novas soluções para problemas comuns entre os cientistas. Ela foi diretora do Departamento de Políticas e Programas Temáticos da pasta.
A professora citou como outra frente fundamental a formação de recursos humanos na geração de profissionais capazes de integrar diferentes campos do conhecimento. “Nada mais natural que esses programas de pesquisa estejam associados a programas de capacitação de recursos humanos em alto nível, como os programas de pós-graduação multi-institucionais”, comentou.
Também ontem, a professora Maria Stela Grossi Porto, do Departamento de Sociologia da UnB, foi responsável pelo painel “Organização social e violência urbana: alguns desafios”. Ela apontou questões a enfrentar para a superação do problema e defendeu a necessidade de instaurar a cultura da paz. “As crianças se socializam na e pela violência”, disse, citando desenhos animados em que agressões são corriqueiras e se estabelece a ideia de que é interessante tirar vantagem de todas as situações.
De acordo com a pesquisadora, é importante valorizar contextos mais solidários em detrimento daqueles baseados em brutalidade, “A cultura da paz deve estar no processo civilizador das crianças”, defendeu Maria Stela. Ela lembrou as formulações do sociólogo Max Weber e destacou que a polícia é quem detém o monopólio do uso da violência legítima. Ela não se posicionou contrariamente à detenção de poder por parte do Estado, mas ressaltou que é necessário estabelecer uma nova imagem para o policial, dissociada da “ideia da polícia armada para a guerra, para combater”.
(Com informações da Ascom/MCTI)