A partir deste domingo e até a próxima quarta-feira o Rio de Janeiro vai se transformar na capital global da ciência. Neste período, a cidade vai receber mais de 700 pesquisadores e representantes de 120 países que participarão do 6º Fórum Mundial de Ciência, pela primeira vez realizado fora da Europa. Com o tema “Ciência para o desenvolvimento global sustentável”, o evento – que serve como uma plataforma de debates sobre as políticas nacionais e internacionais de pesquisa, sua relevância social e como podem ajudar a solucionar alguns dos maiores problemas da Terra – busca dar continuidade às discussões da Rio+20, dele resultando um documento com recomendações sobre o futuro da produção científica.
– Não é possível, por exemplo, ter desenvolvimento sustentável enquanto tivermos pobreza extrema. É preciso que estejamos mais empenhados na erradicação da pobreza, sendo a inclusão um fator fundamental para o desenvolvimento sustentável – lembra o matemático Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), organizadora do encontro, que tem apoio e parceria da Academia de Ciências da Hungria, idealizadora e anfitriã de todos os fóruns anteriores, realizados em Budapeste; da Unesco; do Conselho Internacional para a Ciência; da Associação Americana para o Progresso da Ciência; e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Diplomacia da ciência
Opinião parecida tem Sergio E. Moreira Lima, ex-embaixador do Brasil em Budapeste e atual diretor do Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais:- A diplomacia da ciência vem adquirindo crescente importância como instrumento da comunidade internacional para enfrentar os graves desafios da redução da pobreza, da inclusão social, do desenvolvimento sustentável, da segurança alimentar, da diversificação das fontes de energia, do combate às endemias e outras questões de saúde pública, do desarmamento e, até mesmo, da governança. São críticos, nesse processo, valores científicos como a racionalidade, a transparência e a universalidade.
Participação das mulheres
Neste sentido, Palis adiantou dois assuntos que deverão ser destacados no documento final do fórum: estratégias para valorizar e aumentar a participação das mulheres na ciência, tecnologia e inovação e recomendações voltadas para o avanço dos países emergentes e em desenvolvimento na área. Outra ideia é estimular a publicação de artigos científicos em plataformas de acesso aberto nos moldes do SciELO. Criado no fim dos anos 90 no Brasil, o SciELO se expandiu para outros países da América Latina e Caribe, além de África do Sul, Espanha e Portugal, e recentemente passou a fazer parte da Web of Knowledge, serviço que contabiliza e indexa citações de artigos científicos, abrangendo mais de um século de pesquisas publicadas em 24 mil periódicos.
Um legado esperado da realização do fórum no Rio é dar maior visibilidade à ciência brasileira. Palis destaca, por exemplo, que ainda são poucas as empresas brasileiras que investem em pesquisa e desenvolvimento próprios, o que dificulta o surgimento de inovações e sua aplicação em produtos e processos. – É preciso agregar valor a nossos produtos, se não vamos ser para sempre um país de commodities – diz. – E para isso, precisamos de mais cientistas dentro das empresas fazendo pesquisa e desenvolvimento.
Assim, conta Palis, a ABC e outras instituições lutam para aprovar no Congresso um novo marco legal para a ciência, tecnologia e inovação no Brasil, com um conjunto de leis facilitando a reduzindo a burocracia e custos para a compra de equipamentos e insumos usados em pesquisas. – Precisamos tratar pesquisas e tecnologia de forma diferente, por exemplo, da construção de um prédio, dentro de parâmetros compatíveis com a peculiaridade da produção científica – defende. – Além disso, para a cultura e outras atividades há incentivos fiscais, mas para a ciência e tecnologia não. Isso não faz sentido.
(César Baima/O Globo) – Veja o PDF