A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, foi a conferencista da abertura 27ª Reunião anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE 2012), que acontece até o dia 25 de agosto, em Águas de Lindóia, São Paulo.
“A ciência brasileira hoje e amanhã: virtudes, equívocos, desafios e incertezas” foi o tema central de sua conferência que destacou, inicialmente, dados históricos sobre a ciência brasileira. Segundo Helena, um dos primeiros marcos da nossa história foi a criação, em 1916, da Academia Brasileira de Ciências. Posteriormente, surgiram o Ministério da Educação e Saúde Pública (1930), a SBPC (1948), CNPq e Capes (1951), Fapesp em 1962 o que acabou por influenciar a criação de outras Faps em todo o País, Finep (1967), Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (1969), entre tantos outros institutos e centros de pesquisa.
Entre as virtudes de nossa ciência, Helena enfatizou a ampliação do sistema de instituições federais e estaduais de ensino superior. “Se em 2002, existiam apenas 43 universidades, em 2009, o País já contava com 59 universidades, distribuídas em 171 campi. Isso é uma virtude tanto do governo federal como dos estaduais”, disse. Além disso, é importante valorizar o sistema de financiamento para ciência e tecnologia e o sistema nacional de pós-graduação que temos hoje. “São 70 mil doutorandos, 115 mil mestrandos somados a um crescimento no número de docentes, o que nos coloca na 13ª posição no ranking de publicações de acordo com a Thompson Reuters, tendo ultrapassado países como Israel, Suíça e outros”, afirmou.
No quesito de equívocos, a presidente da SBPC alertou para o impacto que os cortes e contingenciamentos terão sobre a pesquisa nacional em ciência, tecnologia e inovação. “É algo imperdoável. Se vínhamos numa crescente, de repente a gente tropeça.” Porém para ela, o gargalo não é só nos recursos, mas também na educação básica. “Ou a gente olha para isso, ou a gente vai continuar brincando no País.” A qualidade do ensino médio afeta diretamente a qualidade do ensino superior e, por consequência, a produção científica e tecnológica. “O Congresso Nacional se faz de surdo. E se a comunidade científica não for a Brasília gritar por recursos dos royalties para o FNDCT, o que vem pela frente com a Lei que será aprovada é muito grave.”
Em seguida, Helena falou sobre o que seriam, em sua opinião, os desafios. Segundo ela, um dos grandes desafios é em investimentos. Hoje, o Brasil ocupa a 6ª ou 7ª posição, dependendo do dia, na economia mundial e, de acordo com seus dados, ontem (22) foi divulgado um índice bastante triste: “somos o 4º país em desigualdade social da América Latina. Portanto, se o País pretende superar as desigualdades sociais e manter seu ritmo de crescimento, deve ter uma política permanente de Estado, criando alicerces competitivos na economia baseada no conhecimento.”
Mas diante disso, ainda resistem as incertezas. Como ela destacou, o contingenciamento de verbas, a queda no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e também as greves nas universidades federais que completam três meses são incertezas que ainda persistem.
(Claudia Jurberg para o Jornal da Ciência)