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Conferência analisa continuidades e rupturas da teoria da evolução

Guillermo Folguera afirma que nos últimos quinze anos houve uma aceleração na discussão sobre as modificações teóricas, incluindo o questionamento da exclusividade do gene como unidade de hereditariedade.

Guillermo Folguera afirma que
nos últimos quinze anos houve uma aceleração na discussão sobre as
modificações teóricas, incluindo o questionamento da exclusividade do gene
como unidade de hereditariedade.

Ele é considerado a unidade
fundamental da hereditariedade na genética clássica, mas o gene pode ganhar a
companhia de outros fatores, como o comportamental e a influência epigenética
na explicação da herança, de acordo com Guillermo Folguera, da Faculdade de
Ciências Exatas e Naturais e da Faculdade de Filosofia e Letras da
Universidade de Buenos Aires, que proferiu ontem (24) a palestra Continuidades y Rupturas en la Teoría de la Evolución na 64ª Reunião Anual
da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

 

“O gene foi considerado
durante décadas a única unidade de hereditariedade, mas hoje quer se aliar à
epigenética, aos estudos comportamentais de aprendizagem social e à
linguística, esta última no caso do homem”, afirma Folguera. “Não
se está apenas criticando a exclusividade do gene como unidade de
hereditariedade. O que ocorre há quatro décadas é que se está tirando a
relevância dele em muitos aspectos no âmbito genético”, detalha Folguera
ao Jornal da Ciência.

 

Nesse sentido, entra a mudança
dele como unidade de hereditariedade exclusiva, e também a “complexa
relação fenótipo-genótipo” o que, segundo o pesquisador, “nos faz
pensar a vida em diferentes níveis, onde o genético seja só um deles” e
que cada vez que se tenha que descrever um fenômeno biológico seja necessário
levar em conta um determinado conjunto de níveis.

 

Jogo de
interesses
 – No
entanto, a ideia é ainda muito discutida porque envolve distintos interesses.
“Por exemplo, para onde destinar o dinheiro de pesquisas sobre o câncer?
Para estudos genéticos, estudos celulares, estudos organímicos? Há grandes
implicações de ordem ética, política e econômica”, alega Folguera.

 

O pesquisador também afirma que
há resistências à ideia da quebra da exclusividade também por
“dificuldades epistêmicas”. “Uma ideia de que o fenótipo se
herda se aproxima muito mais ao lamarckiano que darwiniano, como no caso, por
exemplo, da indução ambiental, quando o ambiente gera a mudança do fenótipo.
Mas os biólogos odeiam a palavra lamarckiano, por toda oposição que Darwin
teve com Lamarck”, relata.

 

As referências profissionais de
Folguera citadas já dão uma ideia de sua trajetória, que une biologia e
filosofia, disciplinas nas quais ele não só se especializou, mas estabeleceu
conexões. “Aos poucos ele se tornou um biólogo filósofo e encontrou campo
fértil na teoria da evolução. Longe de ser contínua, a evolução encontra
percalços, discussões e rupturas”, conta o professor Ennio Candotti,
vice-presidente da SBPC, apresentador da palestra de Folguera.

 

Histórico das
teorias –
 Durante
a conferência, o pesquisador argentino analisou as continuidades e
descontinuidades da teoria da evolução nas últimas cinco décadas, indagando
os efeitos epistemológicos, metodológicos e ontológicos das mudanças na
teoria.

 

Ele explicou a composição do
“núcleo duro” da genética, formado pela genética clássica, genética
das populações e ecologia evolutiva, consideradas disciplinas “que
explicam”. Paleontologia e anatomia comparada, por outra parte,
apresentam dados e fenômenos para serem explicados. Folguera se focou nos
conjuntos das genéticas clássica e de populações, relacionando a primeira às
origens das variações genotípicas e fenotípicas e à EvoDevo e a segunda a
mecanismos microevolutivos, paleontologia e hierarquias seletivas.

 

“A genética clássica e a
genética de populações cumpriram, durante o século 20, com as expectativas
metodológicas, epistemológicas e ontológicas de biólogos e filósofos da
tradição do empirismo lógico. A genética de populações logrou cumprir as
expectativas de ser uma ciência propriamente, tendo a física como disciplina
exemplo. Ela tem um funcionamento como o da física”, compara, citando
texto que produziu com o brasileiro Melender de Araújo.

 

Após falar das bases e da
diversidade de propostas nos séculos 18 e 19, e da predominância da síntese
biológica entre os anos 1930 e 1960, Folguera focou nos anos 1970, quando
houve o que ele chama de “primeira onda” de críticas, expansões e
alterações da síntese biológica.

 

A “segunda onda”, de
acordo com o Folguera, surgiu a partir de 1995, quando começou uma aceleração
nas discussões, que vem se intensificando com temas como a quebra da
exclusividade do gene como unidade de hereditariedade. “Foram registradas
grandes modificações na teoria da evolução na última década e isso foi se
acelerando. Hoje estamos discutindo mudanças muito importantes”,
destaca.

 

(Clarissa Vasconcellos – Jornal
da Ciência)