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Debate sobre o papel da Universidade

Com o tema "Em defesa da Universidade", a mesa-redonda realizada no segundo dia da 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Luís, defendeu a importância das instituições para o País.

Com o tema “Em defesa da Universidade”, a mesa-redonda realizada no
segundo dia da 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC), em São Luís, defendeu a importância das
instituições para o País.

Em sua apresentação, Valério Arcary, professor
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo
(IFSP) questionou o tema da mesa-redonda “Defender a universidade de
quem, de quê? Quem não sabe contra o que lutar não pode vencer”. Para
uma plateia formada sobretudo por estudantes, o professor responde que,
antes de tudo “lutamos contra a decadência, vivemos em um momento de
prosperidade, lutamos contra a decadência”, resumiu.

Arcary traçou um apanhado histórico sobre o
surgimento da Universidade no mundo e no Brasil, como um espaço de
produção e socialização de conhecimento. De acordo com o professor, a
universidade surgiu depois do aparecimento do sistema capitalista. No
período pré-capitalista, ele citou sociedades que eram muito
desenvolvidas, mas que desapareceram rapidamente da história. “A
produção de ciência, arte e cultura é indispensável para a vida social,
que a sociedade dedique uma parte de suas riquezas para a criação de
ideias e estímulo a formação de intelectuais é absolutamente vital”,
declarou.

O professor falou também sobre a questão do
desenvolvimento tardio da Educação no Brasil e sobre a influência de
Portugal nesse atraso. Ele explica que a formação de uma massa crítica
nunca foi prioridade dos portugueses porque poderia provocar tensões.
Portanto, apenas depois da independência surgiram as primeiras
universidades no Pais. “O atraso histórico condiciona a formação da
massa intelectual no Brasil”.

A expansão da Universidade no País a partir dos
anos 50 integrava o projeto nacional de desenvolvimento. “O Brasil não
era atrasado apenas na parte industrial, era muito atrasado na educação e
o Estado teve que criar universidades para desenvolver as habilidades
daquela região. A partir dali, o Estado assume a responsabilidade de
criar universidades porque era estratégico para o crescimento e o modelo
de progresso do Brasil”, explana.

E para manter seus intelectuais profissionais, a
sociedade precisa produzir mais para gerar um excedente para manter os
profissionais intelectuais. Custo de um aluno por um ano em uma
universidade pública é R$ 15 mil. Com a aprovação dos 10% do PIB, o
investimento dobra e o custo sobe para R$ 30 mil, se colocar em debate
esse valor na sociedade, terá apoio?

Mobilização – Segundo a análise de Arcary, um
dos desafios que se apresentam atualmente para a comunidade
universitária é sua capacidade de mobilização e pressão por políticas
públicas. “Nós temos os elementos da crise do Brasil antigo, ou seja,
sofremos com o atraso histórico, e também temos a crise da sociedade
moderna, ou seja, uma sociedade atrasada na educação e cada vez com
maior poder econômico”, define.

Para Bernardo Boris Vargaftig, da Universidade
de São Paulo, o mundo vive um movimento internacional de contestação,
mas são protestos dispersos e desconexos que acabam perdendo o foco.
“Vemos mobilizações imensas mas passageiras, não há um programa que
direciona, a movimentação é dispersa, não há protesto com um projeto
claro de avanço”, declarou.

Os dois professores relembram o importante papel
da Universidade na época da ditaura e questionam o papel atual no
cenário político nacional. “O desafio é saber se a universidade tem a
mesma capacidade de ser decisiva no momento atual histórico como na
época da ditadura. Queremos defender a universidade? Temos que saber
contra quem lutamos e como lutar”, provoca Arcary.

(Jornal da Ciência)