Schmidt participou de painel da SBPC sobre pesquisa em seres humanos. “Temos potencial para muito mais”, diz professor doutor.
O Brasil tem apresentado, nos seis últimos anos, uma redução no número de pesquisas clínicas patrocinadas pela indústria e um prejuízo estimado em cerca de U$ 150 milhões por conta da burocracia para a aprovação dessas análises. Esse foi o cenário apresentado pelo doutor em pediatria e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), Charles Schmidt, durante um debate sobre a ética e a pesquisa envolvendo seres humanos, realizado nesta sexta-feira (25), durante a 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre em Rio Branco, no Acre.
Segundo Schmidt, o vilão dessa história é o sistema regulatório brasileiro que determina prazos de aprovação e outros impedimentos que acabam afastando patrocinadores internacionais ou mesmo nacionais.
“Isso acarretou em uma perda de vários estudos clínicos que não vieram para o país o que gera a falta de inovação, falta de conhecimento tecnológico e recursos”, destaca.
De acordo com ele, embora o prejuízo seja estimado em U$ 150 milhões, esse valor pode ser maior. “O número de estudos clínicos que a gente perde, que nem se pensa vir ao país, esse valor pode ser maior e é uma pena”, especula.
O especialista explica que as pesquisas clínicas podem trazer recursos para outras áreas, como bolsas de estudo e incremento de novos equipamentos em hospitais e clínicas brasileiras. “O Brasil faz menos de 1% da pesquisa clínica global e temos potencial para muito mais e capacidade técnica dos centros de fazer isso de maneira melhor”, comenta.
Burocracia
Para mudar esse cenário, o especialista defende uma mudança na forma como os comitês de ética atuam no país.
“Nós não devíamos ter tripla aprovação ou mais. Deveríamos ter comitês de ética treinados, validados e bem capacitados para gerenciar seus próprios estudos. Não deveríamos ter também um comitê central para uma segunda ou terceira avaliação, mas para treinar e regularizar outros comitês”, afirma.
Ele também defende mais agilidade por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Seus processos ainda são muito burocráticos, eventualmente chega a se demorar três a quatro semanas só para importar os produtos de investigação. Tem que ter agilidade de processos, temos que ser competitivos, temos que ser profissionais porque o paciente brasileiro tem esse direito de participar dos estudos clínicos em todas as áreas”, diz.