EDITORIAL: A 76ª Reunião Anual da SBPC em Belém e a ciência para um futuro sustentável e inclusivo

No próximo domingo, teremos a honra de iniciar a 76ª edição da nossa Reunião Anual, em uma solenidade no histórico Theatro da Paz, localizado na Praça da República, em Belém do Pará. Esta será a terceira vez que a capital paraense recebe o maior evento científico da América Latina, destacando-se anteriormente as edições de número 35 e 59, que tiveram como foco a Amazônia, com os temas “A questão amazônica” e “Amazônia: desafio nacional”, respectivamente.

Na última vez em que a SBPC esteve em Belém com sua Reunião Anual, em 2007, o presidente era Ennio Candotti, de quem nos despedimos em dezembro passado e que homenageamos nesta edição. Ennio foi uma figura central para a SBPC e para a Ciência no Brasil. Liderou esta entidade por quatro gestões e dedicou sua vida à divulgação científica e à disseminação da ciência por todas as regiões do País.

Em seu discurso de abertura daquela Reunião, ele defendia a soberania brasileira nas pesquisas sobre a região amazônica e destacava a necessidade de incentivar a proliferação de pesquisadores brasileiros dedicados a estudar este bioma. Na época, 70% das pesquisas robustas sobre a Amazônia eram conduzidas por estrangeiros e publicadas em revistas internacionais. Ennio propôs a criação de um “cerebroduto” — um programa de circulação de ideias e competências, mais necessário do que um gasoduto atravessando a América Latina. Ele defendia, como nós defendemos hoje, um desenvolvimento sustentável e justo, que incorpore os conhecimentos tradicionais das populações que habitam e manejam essas terras há milênios.

Porque durante muito tempo prevaleceu a ideia de que a natureza faz suas entregas sozinha; de que as populações que vivem às margens da Amazônia apenas se beneficiam de um meio ambiente pródigo e generoso. Mas as pesquisas científicas mais recentes comprovam que a Floresta Amazônica, por exemplo, é fruto de um sério e cuidadoso manejo da natureza ao longo de centenas ou mesmo milhares de anos – assim como a constituição do milho como espécie comestível demandou longos experimentos das sociedades, nossas vizinhas, dos Andes. É imperioso, portanto, reconhecer esse mérito, esse trabalho, e fazer com que os povos da floresta recebam, inclusive em termos financeiros, o que fizeram por merecer.

O tema central deste ano, “Ciência para um futuro sustentável e inclusivo: por um novo contrato social com a natureza”, reflete, justamente, nossa ambição de reavaliar e renovar nossa relação com o meio ambiente. E recobramos aqui a inestimável contribuição desses povos da floresta na preservação desse ecossistema. O conhecimento ancestral desses povos é um tesouro que precisa ser reconhecido e valorizado.

A escolha de Belém como sede deste encontro não é apenas uma homenagem à sua importância histórica para a SBPC, mas também uma oportunidade de rediscutir o desenvolvimento sustentável do País, com ênfase especial na Amazônia. E este evento vem em um momento estratégico, antecipando as discussões científicas que serão centrais na 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá em novembro de 2025, aqui na capital Paraense.

Nossa missão nesta semana é engajar a sociedade em discussões sobre como construir esse tão necessário futuro mais sustentável e inclusivo. Necessário e urgente. Cada vez com maior frequência, vemos as consequências trágicas mudanças climáticas devastando cidades e regiões inteiras, como vimos no Rio Grande do Sul este ano. Os recentes alagamentos no Sul do País, a seca no Amazonas em 2023 e no Pantanal este ano, são resultado de um descaso com a natureza, que está nos custando caro. O momento de mudar, de reivindicar políticas públicas que tomem por base o conhecimento científico acumulado por décadas, é agora.

Ao longo de sete dias, nossa Reunião Anual promete uma imersão em cultura, descobertas e debates fundamentais, sobre a natureza, o clima, a política nacional, e nosso papel no desenvolvimento do País. As atividades são abertas ao público de forma gratuita. Nossa esperança é que cada visitante saia deste evento com um renovado amor pelo conhecimento e pelo meio-ambiente e uma maior consciência sobre sua importância. Acreditamos firmemente que é através da ciência que podemos trilhar o caminho rumo a um Brasil mais justo e responsável, que lidere as mudanças para uma relação mais saudável e cuidadosa com o planeta que habitamos.

Venha participar e ser parte desta transformação!

Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC

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