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Cientistas querem mais apoio à pesquisa, inclusão social e redução da pobreza na Amazônia

O 3º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciências, que acontecerá em 2013, no Rio de Janeiro, terminou na última sexta-feira (30), em Manaus, com os cientistas participantes pedindo maio apoio à pesquisa, inclusão social e redução da pobreza na Amazônia.

O 3º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciências, que acontecerá em 2013, no Rio de Janeiro, terminou, na última sexta-feira (30), em Manaus, com os cientistas participantes pedindo mais apoio à pesquisa, inclusão social e redução da pobreza na Amazônia. Realizado durante três dias, o evento teve como objetivo principal discutir propostas para serem levadas ao Forum Mundial do ano que vem. O encerramento do encontro contou com a participação de sete pesquisadores, em duas mesas de debate.

A primeira, sob o tema “Ética e ciência na fronteira do conhecimento”, contou com a participação dos professores Socorro Chaves e Plínio Jose Cavalcante Monteiro, ambos da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e de Geraldo Mendes dos Santos, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Os participantes discutiram as diferentes facetas da ética em pesquisa e do desafio de aproximá-la da ciência. Entre essas questões, foram abordadas as relativas ao conhecimento tradicional e o conhecimento científico; a fronteira dos saberes e as áreas com pressupostos técnicos e metodológicos distintos; e a presença da academia e das demandas da sociedade na fronteira do conhecimento.

Em sua fala, o professor Plínio José Cavalcante Monteiro ressaltou a importância do apoio a instituições como o INPA e a Embrapa. “Não adianta discutirmos ética se não temos decisões políticas acertadas”, lembrou. “As prioridades políticas não podem estar longe das prioridades científicas”, disse o professor, complementando que as fronteiras agropecuárias estão avançando e é preciso atentar para isso. Ele citou como exemplo o aumento brutal do cultivo da soja na região.

Na sequência foi realizada a mesa redonda “Ciência para inclusão social e redução da pobreza nos trópicos”, com a presença de Adalberto Luís Val, diretor do INPA, Alfredo Homma, pesquisador da Embrapa/Pará, Terezinha Fraxe, professora da UFAM, e Álvaro Diaz, representante da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL).

A mesa tratou da importância do olhar sobre a sustentabilidade visando a inclusão social e a redução da pobreza na região amazônica. A professora Terezinha Fraxe foi enfática ao defender que os conhecimentos tradicionais dos quilombolas, indígenas e ribeirinhos são tão importantes quanto os conhecimentos científicos. Ela lembrou que alguns cientistas captam com as comunidades tradicionais esses conhecimentos e não creditam a esses grupos sociais o que absorveram nessas áreas.

O diretor do INPA voltou a enfatizar no encerramento do encontro a importância do tripé educação, ciência e cultura para o processo de inclusão social e geração de renda na Amazônia. Além disso, Val destacou que é fundamental o desenvolvimento da economia verde em todos os setores da sociedade, ou seja, de forma inclusiva. Ele também falou sobre a importância do programa Ciência Sem Fronteiras para a região amazônica.

“Nesta área de ciência, tecnologia e educação não basta a gente ser criativo”, disse. “Temos de ser ousados e esse é um programa ousado. Podemos ampliar em quatro vezes o número de doutores na região com o Ciência sem Fronteiras.” Mas também é preciso criar as condições no País para receber esse pessoal treinado no exterior de volta nas instituições brasileiras e fortalecer.

Para Val, a Amazônia é uma das áreas que precisam receber uma boa parte dos pesquisadores do programa. “Nós temos pouco mais de 4 mil doutores em toda essa parte do território nacional, quase 60% da área total do País, e há uma enorme pressão sobre essa região de todas as ordens”, disse. Segundo o diretor do INPA, essa demanda pode ser contornada, em boa parte, com a fixação de recursos humanos treinados pelo Ciência sem Fronteiras.

Para Val, da mesma forma que o País está investindo no programa Ciência sem Fronteiras, precisa investir num programa de pessoal na área de ciências sociais, área de adaptação dos sistemas para poder receber esses pesquisadores. “A questão dos marcos regulatórios para ciência e tecnologia é fundamental nesse processo”, alertou. “Como vamos fixar esse pessoal no País, com bolsa? Bolsa é um instrumento de formação. Nós precisamos criar as condições, por exemplo, para ter os concursos e a contratação desse pessoal nas instituições de pesquisa e ensino. Não precisamos criar outro Reuni, mas temos que expandir e consolidar o que nós já temos.”

Ele disse que enfatizado muito que é necessário, nos próximos anos, criar um processo de fixação acelerada de recursos humanos na Amazônia, até poder ter condições de demandar investimentos na região da mesma forma que as demais regiões do País, ou seja, se ela é responsável por 8% do PIB brasileiro, é preciso ter 8% dos recursos para ciência e tecnologia investidos lá.

Segundo Val, hoje os investimentos são de 2,5%. “Se tivermos esses números gerais, isso significa ampliar a nossa capacidade de demanda aqui em quatro vezes”, explicou. “Significa transformarmos 4 mil doutores que temos em 16 mil.”

O diretor do INPA concluiu dizendo que, considerando a importância da Amazônia no contexto mundial e o grande fosso que separa essa região das demais áreas do País, “diria que a gente precisa de uma estratégia diferenciada para a região, até por uma questão de segurança nacional”.

O 4º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência será realizado entre os dias 5 e 7 de dezembro na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), com o tema “Ciência para o Desenvolvimento Global – Energia e Sustentabilidade”. Veja a programação no site do CGEE.

Evanize Sydow, do Jornal da Ciência