50 anos do golpe no Chile

Reportagem da nova edição da Ciência & Cultura aponta que cinquentenário do golpe de 1973 é uma oportunidade para refletir sobre os desafios enfrentados na busca por justiça, igualdade e democracia na América Latina

No dia 11 de setembro de 1973, o Palácio de La Moneda, sede da Presidência do Chile, foi cercado e bombardeado por forças militares. Os militares tomaram o poder, Salvador Allende morreu, e Augusto Pinochet iniciou a ditadura que duraria até 1990. O golpe, que resultou na morte de Salvador Allende, deixou um legado de mais de três mil mortos e desaparecidos, além de 40 mil presos e torturados, forçando cerca de 200 mil chilenos ao exílio. 50 anos depois, este triste marco histórico reacende debates sobre uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina e seu impacto duradouro, e é discutido em reportagem da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “América Latina: Integração e Democracia”.

Após o golpe, o regime de Augusto Pinochet promulgou uma nova Constituição em 1980, consolidando um regime autoritário que limitava a responsabilidade do Estado na promoção de direitos sociais e igualdade. Essa Constituição também criou mecanismos que dificultaram mudanças políticas substanciais. Embora a democracia tenha sido restaurada em 1990, a sombra do autoritarismo persistiu, com “enclaves autoritários” que limitaram a plenitude da democracia.

Além das questões políticas, a ditadura chilena legou à sociedade violações de direitos humanos e uma cultura de impunidade. Apesar das medidas reparadoras, a ascensão da extrema-direita no cenário político chileno ameaça relativizar esses abusos, gerando preocupações sobre a justiça e os direitos humanos. “A ditadura chilena legou para a sociedade uma série de violações de direitos humanos e uma cultura de impunidade”, afirma Caroline Silveira Bauer, professora do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Em 2019, o Chile viu um grande levante popular, conhecido como “estallido social“, que começou como um protesto contra o aumento das tarifas do transporte público e se transformou em um movimento mais amplo. Os protestos revelaram descontentamento com o alto custo de vida, preços elevados nos transportes, medicamentos e tratamentos de saúde, e um descrédito generalizado na classe política e nas instituições, incluindo a Constituição vigente. “Acredito que o estallido social acirrou a polaridade”, explica Jales Dantas da Costa, professor no Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB). “De um lado, o ímpeto popular de trabalhadores, desempregados, marginalizados, empobrecidos, indignados, estudantes, professores, indígenas, representantes dos mais diversos movimentos sociais, etc., que imprimiram um rotundo ‘não’ a figura e ao legado de Pinochet – como prova o rechaço da Constituição vigente e o plebiscito para elaboração de uma nova Constituição. Por outro lado, fortaleceu o apoio a sua imagem e seu legado não apenas por parte de conservadores, reacionários e contrarrevolucionários, como também parte de moderados apavorados com a explosão social”, pontua.

Após um plebiscito nacional em 2020, 78% da população chilena aprovou a criação de uma nova Constituição. No entanto, em um segundo plebiscito em 2022, 61,8% da população rejeitou a primeira proposta. Agora, uma nova Constituição está sendo elaborada por um órgão eleito em maio e dominado por uma direita ultraconservadora, com previsão de conclusão em dezembro deste ano. O cinquentenário do golpe no Chile destaca a importância de compreender a história compartilhada da região e os desafios contínuos na busca por justiça, igualdade e democracia, lembrando a necessidade de manter viva a memória desses eventos sombrios enquanto se constrói um futuro melhor.

Leia a reportagem completa:

https://revistacienciaecultura.org.br/?p=4819

 

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