Se o Brasil deseja superar as desigualdades sociais e manter seu ritmo de crescimento econômico, Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação devem ser, necessariamente, componentes de uma política permanente de estado, criando alicerces competitivos na economia baseada no conhecimento. Essa foi a ideia central da apresentação da presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, feita ontem (5) à noite, em Salvador, durante a abertura do 4º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência 2013, que será realizado no Rio de Janeiro. Com o tema central Energia e Sustentabilidade, o evento na capital baiana se encerra nesta sexta-feira (7).
Além de Helena, deram palestra ontem Luiz Antonio Elias, secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e Elibio Rech, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que representou no encontro a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
A presidente da SBPC traçou um amplo panorama da evolução das políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação do País, ressaltando os aspectos positivos e avanços nas últimas décadas, sem esquecer dos problemas e desafios. Helena começou lembrando os principais marcos da institucionalização da ciência no Brasil, desde a criação da ABC, em 1916, até a do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1985, e Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, em 1996, passando pela da própria SBPC, em 1948, e as do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Entre os acertos das políticas de ciência e tecnologia do Brasil, a presidente da SBPC citou o sistema de pós-graduação com avaliação. “Aumentou consideravelmente o número de estudantes de mestrado e doutorado dos anos 80 para cá”, disse. “Hoje, temos quase 70 mil alunos de doutorado e 120 mil de mestrado.” Outro aspecto positivo citado por Helena é a produção científica brasileira, que representa 2,7% do total mundial, o que coloca o País na 13ª posição. Em algumas áreas do conhecimento, no entanto, a ciência brasileira está acima desta média, como, por exemplo, em agricultura, plantas e animais, farmacologia e toxicologia e microbiologia.
Além disso, o Brasil se destaca em tecnologia e inovação em algumas áreas, como agricultura (laranja, soja, frutas tropicais e cereais), produção animal (bovinos, suínos e frangos), aeroespacial (aviões, ciência e tecnologia espaciais), biocombustíveis (etanol e biodiesel), petróleo (exploração em águas profundas), indústria de celulose e papel, controle biológico de insetos e doenças tropicais e saúde pública. “Não estamos como gostaríamos, mas estamos melhorando”, disse Helena.
Mas há o outro lado, os aspectos negativos e os desafios. A presidente da SBPC citou entre eles os cortes e contingenciamentos nas verbas e orçamentos destinados à ciência, tecnologia e inovação e o atraso no desenvolvimento do ensino básico, principalmente o ensino médio, que afeta diretamente a qualidade nas universidades e, por consequência, a produção científica, tecnológica e a inovação.
Um sinal disso pode ser visto no desempenho dos estudantes brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês). “Nós estamos péssimos em leitura, matemática e ciências”, lamentou. Em outros aspectos, o País também tem desafios a superar. O Brasil ocupa a 6ª/7ª posição na economia mundial, mas é o 4º país com maior desigualdade da América Latina e apenas 47º colocado no ranking global de inovação. “Além disso, aplicamos apenas 1,1% do PIB em CTI (0,6% governo e 0,5% indústria) e falta inovação nas empresas”, disse Helena. “Como se não se bastasse, temos uma dependência crescente das exportações de commodities e a maioria das patentes é de universidades, quando deveria ser das empresas.”
Confira a programação do 4º Encontro Preparatório
Evanildo da Silveira para o Jornal da Ciência