Região possui uma mina de ouro biológico para estudar impactos climáticos na biodiversidade
Na tentativa de mitigar os efeitos das altas temperaturas do globo terrestre previstas para os próximos anos, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) começam a estudar, em laboratório, a adaptação de várias espécies de peixes e de vegetais da Amazônia às oscilações climáticas.
A informação é de Adalberto Luís Val, pesquisador do Instituto e diretor do laboratório de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (ADAPTA), em conferência realizada neste domingo, 27, na 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Rio Branco, Acre.
Sob o tema “As mudanças ambientais e a sobrevivência da Biota Aquática Amazônica”, Val declarou que o estudo está sendo conduzido em estufas com temperaturas previstas para os próximos anos.
“Vivemos hoje os piores índices de temperaturas do mundo, com mudanças climáticas radicais”, disse Val, membro da SBPC e representante da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na região Norte.
O pirarucu, natural da Amazônia, é um das espécies milenares que apresenta mais capacidade de se adaptar às oscilações climáticas. O peixe que precisa de água e de ar aéreo para respirar, pode atingir três metros e peso de até 200 Kg, é dos maiores peixes de água doce fluviais e lacustres do Brasil.
Segundo Val, é importante estudar o DNA do pirarucu para entender a história milenar dessa espécie. “A Floresta Amazônica é uma mina de ouro para estudar.”
Conforme Val, os resultados já obtidos dos estudos mostram que o estresse do pirarucu a altas temperaturas surtiu efeito em 20% do tamanho do peixe. Os pesquisadores ainda não tem informação do efeito da reprodução do peixe quando exposto a altas temperaturas.
Mina de ouro biológico
Com a mesma opinião, o biólogo Aldo Malavasi, secretário da SBPC, que mediou a conferência, tentou descrever o potencial da floresta amazônica. “O que o Brasil tem de fato na Amazônia é uma mina de ouro biológico.”
Só a educação e o conhecimento científico poderão mitigar a temperatura drástica que a humanidade enfrentará daqui a 100 anos. Foi com esse tom que o diretor pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Adalberto Luís Val, fez alerta sobre a tendência do aumento da temperatura e um alerta sobre os impactos desse fenômeno da diversidade biológica, sobretudo da Amazônia.
Responsável por 60% do território brasileiro, a Amazônia possui 5,5 milhões de quilômetros quadrados (km2); tem 7,2 milhões km2 de bacias hidrográficas, 700 mil km2 de vegetação aberta e 13 mil quilômetros de fronteiras.
Uma das principais características da Amazônia são as águas do Rio Negro que cortam como o Mississippi dos Estados Unidos (EUA), respondendo por 20% da água doce do mundo.
Na conferência, o pesquisador do INPA considerou fundamental o investimento científico e tecnológico na tentativa de preservar e conservar a Amazônia e de enfrentar os desafios das temperaturas drásticas que estão por vir.
Previsões do IPCC
Nesse caso, ele citou as últimas previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla inglês) que prevê temperaturas drásticas para os próximos 100 anos. Destacou o cenário mais drástico do IPCC para temperaturas daqui a 100 anos, de 73 graus celsius. “Isso seria uma mudança drástica para a temperatura do nosso sistema terrestre.”
Para Val, o aumento drástico da temperatura do globo terrestre deve interferir no solo, água, nas espécies animais e vegetais e, por tabela, na segurança alimentar.
Diante disso, ele alertou para a necessidade de uma revolução no sistema de ensino, pelo menos no Brasil, com estímulos ao conhecimento, às vivências regional e cultural, na tentativa de mitigar os reflexos das altas temperaturas que ainda estão por vir.
Val recomenda mudar a forma de pensar daqueles preocupados em deixar um mundo melhor para “nossos filhos”. “Temos é de pensar em como preparar nossas crianças para enfrentar os desafios futuros do mundo.”
(Viviane Monteiro/ Jornal da Ciência)