Hoje o foco das pesquisas ligadas à nanomedicina é no diagnóstico de câncer, doenças infecciosas e terapias
Mostrar o avanço dos estudos da área nanomedicina – uma interface entre nanotecnologia e medicina que pode revolucionar o tratamento de doenças como câncer e infecções no mundo – e analisar os impactos dessa inovação no meio ambiente e na população, é um dos destaques da programação da 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Carlos.
Trata-se de uma área da ciência que está na fronteira do conhecimento, com 10 ou 12 anos de estudos, mais ou menos.
O tema será abordado pelo especialista no assunto, o professor Valtencir Zucolotto, coordenador do Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia (GNano) do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), pioneiro nesses estudos no Brasil. O IFSC pertence à Universidade de São Paulo (USP), campus S.Carlos, onde o maior evento científico da América Latina se realizará nos próximos dias – no período de 12 a 18 deste mês.
Hoje o foco das pesquisas, segundo Zucolotto, é no diagnóstico de câncer, em doenças infecciosas e em terapias. A expectativa é de que essas inovações façam parte do dia-a-dia da medicina o mais rápido possível.
“O importante é mostrar que essa área já, já será utilizada pela clínica médica”, estimou ele, que discorrerá sob o tema Nanomedicina e Nanotoxicologia e explicará como o uso de nanomateriais já está contribuindo para o avanço da medicina diagnóstica e terapêutica na 67ª Reunião Anual da SBPC.
Em sua palestra, o especialista traçará um cenário nacional e mundial de como andam as pesquisas na área de nanomedicina, com ênfase nos avanços obtidos pelo “nosso” grupo de pesquisa. “Mostraremos quais os principais materiais, que tipos de nanopartículas são utilizadas em cada sistema de diagnóstico e quais as doenças que têm sido o foco desses estudos”, exemplificou.
Segundo ele, as descobertas vão causar forte impacto em áreas como a medicina e o agronegócio. Em seu entendimento, “os mesmos sistemas que podem levar um fármaco dentro de uma célula, pode também levar um fertilizante ou um pesticida na planta, na raiz, na folha, para que se diminua a quantidade de agrotóxicos no campo.
Pedidos de patentes
O grupo de pesquisadores do Gnano publicou recentemente vários artigos em revistas internacionais sobre avanços obtidos nos estudos. Dentre os quais, no estudo sobre o uso de nanopartículas para o diagnóstico de leucemia e também do de nanossensores para detecção de dengue. E em estudos sobre diagnósticos preventivos de hipertensão arterial e diabetes tipo 2.
Aliás, os sensores de detecção de dengue e de prevenção de diabetes tipo 2 já foram submetidas ao INPI para o registro de patentes. Ao mesmo tempo, o grupo de pesquisadores negociam com uma empresa de São Paulo a comercialização da inovação do sensor para prevenção de diabetes tipo 2, na forma de produto.
Impactos ambientais e na população
Paralelamente aos estudos sobre o uso de nanopartículas na área da saúde, pesquisadores também se debruçam para descobrir como os materiais utilizados ( nano materiais, nano partículas, nano tubos de carbono, nano fios e etc) podem interferir no meio ambiente e na saúde humana.
“Começou uma grande preocupação para investigar os efeitos tóxicos dessas nanoparticulas para uma célula humana, para o modelo animal, para ambientes aquáticos, peixes, algas e etc”, disse Zucolotto.
Regulamentação
Segundo ele recorda, há cerca de 50 anos essas nanoparticulas não eram produzidas pelos pesquisadores. Existiam apenas algumas naturais, comoas vindas de vulcões e queimadas.
“Essa é uma área de estudo muito fervilhante, busca resultados para que possamos no futuro ter leis e regulamentar a comercialização, o manuseio e o descarte principalmente dos nanomateriais”, disse.
Citando o pioneirismo do grupo nesses estudos, Zucolotto afirmou que os pesquisadores do GNano usam parâmetros de segurança no processo de manipulação. “No caso de uma nano partícula, avaliamos em quais concentrações podem ser tóxicas ou não para o ambiente, como devem ser manipulado, já que ainda não existe uma regulação específica das agências reguladoras para o uso de nanomaterias”, exemplificou.
(Viviane Monteiro/Jornal da Ciência)