A pandemia do novo coronavírus acrescentou mais um desafio à comunicação da ciência, tarefa já complicada pela ampliação, nos últimos anos, de movimentos anti-vacina, terraplanistas e negacionistas do aquecimento global. O tema foi debatido nessa quarta-feira (2/12) por especialistas em divulgação científica, durante a mesa-redonda virtual “Desafios de comunicar a ciência para a sociedade”.
O encontro fez parte da programação do quarto e último ciclo da 72ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que este ano acontece em versão virtual e estendida devido à pandemia da covid-19.
Promovida pela SBPC em parceria com o Centro Alemão de Inovação em Pesquisas (DWIH) de São Paulo, a mesa-redonda foi mediada pela jornalista Luísa Massarani, coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INPT-CPCT).
O evento contou com a participação da professora Paula-Irene Villa Braslavsky, do Departamento de Sociologia e Estudos de Gênero da Universidade Ludwig Maximilian de Munique (LMU); Viola van Melis, coordenadora do Centre for Research Communication da Universidade de Münster (WWU) e Yurij Castelfranchi, professor associado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Viola van Melis falou sobre pesquisas daquela instituição analisando o papel da religião na integração das sociedades e afirmou que a influência dos interesses religiosos não deve ser ignorada, mas abordada a partir de ideias políticas claras.
A socióloga Paula-Irene Villa Braslavsky, defendeu um trabalho focado no conceito de “tradução” em termos de comunicação da ciência, uma ideia que envolve o conhecimento em direção ao público e à sociedade civil e vice-versa, trazendo os problemas da sociedade civil para a pesquisa. “Acredito em conectar com as pessoas no dia a dia”, afirmou Braslavsky.
Yurij Castelfranchi expôs o caso brasileiro onde, segundo ele, há “uma tempestade perfeita”, com crise de saúde pública, corte de recursos para as universidades e a pesquisa. Por outro lado, relatou, o povo brasileiro tem demonstrado maior confiança na ciência que em qualquer outro ator social. “Vemos que a percepção (da ciência) não depende fortemente do acesso à informação, mas sim do engajamento social e político das pessoas.”
Sobre a comunicação da pandemia do novo coronavírus, Viola van Melis destacou a necessidade de explicar para as pessoas os procedimentos que envolvem a produção de estudos e artigos científicos. “É importante que a sociedade entenda melhor os métodos de pesquisa”, afirmou. Para Yurij Castelfranchi, a pandemia é uma oportunidade de “mostrar a ciência em ação”.
Assista ao debate na íntegra, no canal da SBPC no Youtube.
Jornal da Ciência