Nos últimos anos, o reconhecimento do papel crucial das cidades nas mudanças climáticas tornou-se cada vez mais evidente. Até o início dos anos 2000, as discussões sobre os impactos ambientais urbanos concentravam-se principalmente nos problemas locais, como a saúde pública e a degradação do meio ambiente. No entanto, à medida que as pesquisas avançaram e os eventos climáticos extremos se intensificaram, ficou claro que as áreas urbanas têm uma influência significativa na crise climática global. Isso é o que discute artigo da nova edição da Ciência & Cultura, que traz como tema “Mudanças climáticas e a transversalidade do conhecimento”.
Hoje, sabemos que as cidades são responsáveis por mais de 75% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), apesar de ocuparem menos de 5% da superfície terrestre. Este dado alarmante é principalmente atribuído à produção de energia, transporte e construção civil. Essas atividades, essenciais para o funcionamento das cidades, são também as principais fontes de dióxido de carbono (CO2) e outros poluentes nocivos.
A queima de combustíveis fósseis nas áreas urbanas libera uma série de poluentes que vão além do CO2, como monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (COVs). Estes poluentes não só afetam a saúde das populações urbanas, mas também contribuem diretamente para o aquecimento global. Um exemplo disso é o ozônio (O3), um potente GEE que se forma a partir de reações químicas na atmosfera envolvendo esses poluentes. “As cidades não apenas impactam diretamente as áreas onde estão localizadas, mas também exercem pressão sobre ecossistemas periurbanos e rurais distantes”, pontua Maria de Fátima Andrade, professora do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP).
Embora as cidades sejam motores da economia global, gerando cerca de 80% do PIB mundial, essa concentração de atividades econômicas também resulta em uma produção maciça de resíduos e poluentes. Além disso, cerca de 40% do crescimento urbano ocorre em assentamentos informais, onde as condições de vida precárias aumentam a vulnerabilidade das populações aos impactos climáticos, como enchentes e ondas de calor. “Mulheres, crianças e idosos estão entre os grupos mais vulneráveis, pois enfrentam maiores riscos durante eventos climáticos extremos, como ondas de calor, que podem causar desidratação, insolação e agravar condições de saúde preexistentes”, alerta Maria de Fátima Andrade.
A crise climática não afeta a todos de maneira igual. Nas cidades, grupos de baixa renda, que frequentemente residem em áreas de risco, são os mais afetados. A escassez de água é outro desafio crítico que as cidades enfrentam. Com o crescimento urbano e a diminuição das chuvas, a demanda por água aumenta, tornando sua gestão uma questão urgente. Populações de baixa renda, já enfrentando dificuldades para acessar água potável, podem ver sua situação piorar, agravada por conflitos por recursos, aumento dos preços e infraestrutura inadequada.
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