“A liberdade acadêmica no Brasil está em risco”, diz novo presidente da SBPC

Professor da USP e ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro assumiu o comando da principal entidade científica do país em julho

Professor da USP e ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro assumiu o comando da principal entidade científica do país em julho

O Brasil, que nunca teve uma fuga de cérebros tão intensa quanto países como a Argentina e a Índia, tem visto esse fenômeno acontecer cada vez mais nos últimos anos: jovens pesquisadores, com doutorado e pós-doutorado, deixando o país pela falta de oportunidades de trabalho.

“Essas pessoas saem e são entregues prontas, qualificadas, para países que não gastaram um centavo com elas, que vão colher só os frutos. É um desperdício gigantesco”, diz o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Educação (2015).

No dia 23 de julho, Janine assumiu a presidência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a principal entidade científica do país. O momento é desafiador: ao mesmo tempo que o Brasil enfrenta debates como a defesa da ciência contra o negacionismo, o país teve o menor investimento em pesquisa do século 21.

O orçamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para este ano – R$ 1,2 bilhão – é o menor desde 2000. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), outra das agências de fomento federais, também enfrenta uma crise com o corte de bolsas.

Para Janine, as ameaças que pesquisadores, professores e mesmo universidades têm enfrentado significam que a liberdade acadêmica e científica no Brasil corre perigo. Em uma conversa com o CORREIO, ele falou ainda sobre pandemia, vacinas e as polêmicas do Ministério da Educação (MEC).

Confira os principais trechos da entrevista

O senhor assumiu a presidência da SBPC em um momento em que o Brasil passa por uma situação delicada com relação aos incentivos à ciência. São seis anos de cortes de investimentos, aumentando gradativamente. O valor dessa conta já chegou? Que impactos já sentimos e o que ainda virá? 

Eu acho que é difícil dizer se já bateu no piso. A gente entrou em um debate grande sobre o orçamento do ano que vem e não conseguimos analisar o planejamento para saber a quantas estamos. Está muito difícil saber, mas, de modo geral, temos uma preocupação muito grande com relação a tudo. O que está acontecendo é uma falta de priorização daquilo que depende realmenteo futuro do Brasil.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) tem uma verba que não pode ser contingenciada, não pode deixar de ser gasta, segundo a lei. Contudo, o governo usou certos truques para não fazer isso a tempo e agora está jogando contra o tempo para ver se termina o ano sem gastar o dinheiro. Se, até o dia 31 de dezembro, não se gastar o que está no orçamento, o dinheiro some, e volta para o Tesouro. Esse é um problema grande.

Veja o texto na íntegra: Correio24horas