A informação circulava com velocidade, de mão em mão, de boca em boca e em vários formatos. Ora com linguagem erudita, ora em formato mais popular, em verso, em prosa, curtos ou longos, ora adotando um tom laudatório, ora difamatório, com textos assinados ou anônimos. Assim eram os panfletos e pasquins que circularam intensamente no Brasil oitocentista, se constituindo em um gênero de literatura política. E eles tiveram um papel fundamental do processo da independência do Brasil. O assunto é abordado em reportagem na edição de relançamento da revista Ciência & Cultura, que tem como tema “O Bicentenário da Independência — Povos e Lutas”.
Os “papelinhos”, “folhas volantes” ou “papeis incendiários”, como eram chamados, eram folhas soltas colocadas nas paredes e postes de locais públicos. Também eram lidos ou memorizados e declamados nos espaços das cidades. Os textos abrangiam eventos que animaram o debate público antes e depois da Independência, em lugares como Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Maranhão e Grão-Pará.
A profusão dos panfletos mostra, ao mesmo tempo, que as pessoas dos mais variados estratos sociais ansiavam por informação e, também, que queriam participar de alguma forma das discussões e das decisões sobre os rumos do País naquele momento. Eles eram um tipo de comunicação direta, simples e barata.
Nos debates e discussões que os 200 anos da independência do Brasil suscitam, os panfletos, pasquins e seus redatores, anônimos ou não, revelam atores e processos originais no processo de separação de Portugal. Registradas nos panfletos, a voz das ruas mostra que o processo de independência do Brasil foi mais complexo e longo do que o grito de independência às margens do Riacho do Ipiranga pode fazer supor. “Da participação de vários segmentos no processo de independência, devemos pensar que uma sociedade política só pode ser formada e organizada com a participação efetiva e consciente de cada cidadão”, explica Lucia Bastos Pereira das Neves, professora do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Jornal da Ciência