Em evento na ABC, ministro diz que é importante para o Brasil atingir percentuais de 2 a 2,5% do PIB para investir no setor
Questões polêmicas como mudanças na governança do sistema universitário brasileiro e dedicação acadêmica em tempo parcial precisam ser enfrentadas se o Brasil quiser ter uma universidade de excelência. Esses foram alguns dos pontos apresentados pelo ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Clelio Campolina, durante a abertura do Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC). O debate começou nesta segunda, dia 22, e segue até o dia 24/9, na sede da Academia, no Rio de Janeiro.
Campolina fez ainda uma análise, do ponto de vista econômico, sobre as transformações pelas quais o mundo está passando. “Quem domina a base científica lidera economicamente. Estamos assistindo a um fenômeno de transformação de ordem global com a emergência dos países da Ásia. E isso não somente na ordem econômica como possivelmente também na ordem política”, afirmou. Ainda de acordo com ele, nesses países se observa um esforço para construir bases universitárias, acadêmicas, científicas e tecnológicas de alta qualidade.
“É nesse contexto que temos que ver o Brasil, onde estão surgindo novas oportunidades de avanço para os países. É essa nova ordem que o nosso País deve olhar”, opinou. Ele acredita que o mundo está vivendo um novo ciclo expansivo. “São múltiplas trajetórias que vão se combinar, mas que cada vez mais precisarão de ciência para ser capaz de estar nessa nova onda”, disse o ministro.
Para que o nosso País acompanhe essa expansão mundial, Campolina afirma que investir é fundamental. “São necessárias políticas que assegurem recursos estáveis para CT&I, além disso é importante para o Brasil atingir percentuais de 2 a 2,5% do PIB para investir no setor”, frisou.
Pontos polêmicos
Para o Brasil ter uma universidade de excelência, Campolina apontou um caminho que passa por infraestruturas atualizadas com laboratórios adequados, reformulação da estrutura curricular, atração de mais pesquisadores estrangeiros e por mudanças no sistema de dedicação acadêmica, que ele considera uma questão polêmica. “Temos que ter flexibilização de forma correta para apoiar os pesquisadores, parte tem que se dedicar à formação universitária, alguns têm que ser cientistas e outros devem ensinar. Essa é uma questão polêmica e difícil, mas devemos ter coragem para enfrentá-la”, ponderou.
Ele também destacou a necessidade de mudanças na governança do sistema universitário brasileiro. “Se não mudarmos, vamos ficar engessados. Esse é outro ponto polêmico que precisa ser enfrentado. Vai ser um caminho longo, mas o Brasil precisa atentar para essas questões se quiser ter um sistema universitário de excelência”, afirmou Campolina.
Nova sede da ABC
Jacob Palis, presidente da ABC, declarou que o Brasil tem exemplos de sucesso e que houve grande expansão no ensino superior nos últimos dez anos, mas alertou quanto aos desafios que ainda devem ser enfrentados. “Como agregar valor nessa área? Como formar profissionais nos setores estratégicos para que o País cresça? Estamos aqui para tentar apontar caminhos para enfrentar esses e outros desafios”, afirmou.
Durante a cerimônia de abertura do evento, foi assinado entre o presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa – Faperj, Ruy Marques e Palis o documento de cessão formal para a futura sede da ABC no Centro do Rio. O espaço está sendo cedido pela Faperj para que a Academia ocupe três andares em novas instalações. “É um prédio de 1924, construído para ser sede do Banco Alemão, que também foi sede da Secretaria de Fazenda do Estado e atualmente é da Faperj, que está cedendo esse espaço para a ABC, por 20 anos”, destacou Jacob Palis, presidente da ABC. A previsão é que em 2016 a nova sede esteja pronta.
Na mesa de abertura, também estavam presentes o secretário estadual de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Alexandre Vieira; Jorge Guimarães, presidente da Capes, representando o ministro da Educação; Lídia Brito, diretora de Ciências Políticas e Capacitação da Unesco, e o professor Luiz Davidovich, diretor da ABC.
(Edna Ferreira/Jornal da Ciência)