Reduzir desigualdades socioterritoriais e enfrentar a crise climática são dois dos maiores desafios urbanos do Brasil no século XXI. Como cerca de 85% da população brasileira vive em cidades, políticas públicas que articulem de forma integrada as agendas urbanas e ambientais tornam-se fundamentais. Os impactos das mudanças climáticas, sobretudo os eventos extremos, atingem de forma mais intensa as populações vulneráveis, que historicamente ocupam áreas de risco e com infraestrutura precária. Isso é o que discute artigo da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “Cidades e Meio Ambiente”.
O modelo de urbanização consolidado ao longo do século XX produziu cidades desiguais e insustentáveis, marcadas pela expansão horizontal desordenada, pela destruição de cinturões verdes e pela priorização do transporte individual motorizado. Essa lógica levou à ocupação de Áreas de Proteção Permanente, ao desmatamento em áreas urbanas e a uma profunda segregação socioterritorial. O resultado é visível: segundo registros oficiais, entre 1991 e 2023, o Brasil ultrapassou 26 mil eventos climáticos extremos, afetando 83% dos municípios. Apenas entre 2020 e 2023, foram mais de 7.500 ocorrências de desastres relacionados a chuvas intensas, um aumento de 222,8% em comparação à década de 1990. Exemplos recentes, como as chuvas em São Sebastião (SP) e a enchente prolongada no Rio Grande do Sul, expuseram o despreparo das cidades para lidar com essa nova realidade. “As cidades brasileiras apresentam forte desigualdade socioterritorial e não estão preparadas para enfrentar a emergência climática”, explica Nabil Bonduki, professor titular de planejamento urbano e regional da FAU-USP e vereador em São Paulo.
Embora a mudança de uso do solo e o desmatamento nas áreas rurais continuem sendo os principais vetores das emissões brasileiras de gases de efeito estufa, as cidades também desempenham papel central nesse quadro. A transição ecológica urbana requer ações integradas em mobilidade, construção civil e gestão de resíduos, com foco na redução das emissões de CO₂ e metano. Além disso, exige obras de mitigação de riscos, como o remanejamento de populações em áreas vulneráveis, a recuperação de fundos de vale, a ampliação da permeabilidade do solo e o acesso à habitação social para famílias de baixa renda.
Adaptar as cidades às mudanças climáticas significa promover um novo modelo de desenvolvimento urbano, mais justo, sustentável e responsável. Essa transformação, no entanto, enfrenta resistências de setores econômicos beneficiados pelo padrão atual, como as indústrias automobilística e imobiliária, além da própria dificuldade de mudança cultural entre gestores e cidadãos. “A adaptação das cidades às mudanças climáticas requer um novo modelo de desenvolvimento urbano”, defende Nabil Bonduki.
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