O tradicional balanço de final de ano nos lembra que 2018 foi um período nada trivial e chega ao seu final repleto de dúvidas e preocupações. Nesse momento, quando todos se preparam para arrumar a casa e refazer as energias, é hora também de pensar em uma agenda positiva para o próximo ano. O esforço de construir essa agenda passa necessariamente por um debate com toda comunidade de CT&I em busca de definições sobre o que priorizar nesse novo ano que se inicia dentro de alguns dias. Passa também por uma avaliação do que temos conseguido nos últimos anos com a frágil capacidade de mobilização de uma categoria formada por professores e pesquisadores que dependem de recursos públicos para manter suas atividades de pesquisa em pleno funcionamento; assim como dependem desses recursos bolsistas de iniciação científica, mestrado, doutorado e jovens pesquisadores pós-doutorandos distribuídos em muitas instituições universitárias e institutos de pesquisas do Brasil.
Um olhar sobre o quadro atual não pode ignorar a luz amarela que pisca fortemente quando se considera a situação do CNPq, com todas as implicações que a falta de recursos venha a causar na principal agência financiadora do País. Teremos, enquanto pesquisadores e educadores, capacidade para interferir nas decisões que serão tomadas sobre o CNPq? Não há respostas prontas neste momento.
São muitas as questões na agenda de ciência e tecnologia para 2019 e nos anos que se seguem. Uma das mais prementes é a responsabilidade da comunidade científica em sustentar o alerta e a divulgação de informações sobre o aquecimento global, perceptível no dia a dia de qualquer cidadão por menos informação que possa ter sobre a essência do tema. A reunião mundial em Katowice, na Polônia, realizada na semana passada, da qual participaram quase 200 países, reafirmou os termos do Acordo de Paris, reforçando o propósito de implementar as medidas para controle do aquecimento global. Hoje, no Brasil, essas medidas, às vezes contrárias aos interesses de grupos econômicos, precisam mais do que nunca do apoio da sociedade para avançar. Apoio que só pode ser obtido através da conscientização e da disseminação de informações qualificadas que tenham o respaldo do conhecimento científico. O exemplo desta conscientização vem, inclusive, de algumas empresas de atuação mundial, que introduziram em suas agendas de médio e longo prazo discussões e ações visando a sustentabilidade de suas atividades produtivas em várias partes do mundo; destaque para alguns programas de alerta sobre as alterações do clima do planeta.
Tema fixo nessa agenda, mas que ganha a cada ano maior importância, e se relaciona com o anterior, é a necessidade de formulação de políticas que conjuguem de forma mais efetiva o crescimento econômico com a exploração da biodiversidade do País. Este tema de grande importância nacional teve inicio em 2012 quando foi criada a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES); semelhante ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o IPBES foi criado para, em conjunto com 127 países membros, auxiliar com conhecimento científico as tomadas de decisões sobre conservação da biodiversidade, bem-estar humano e desenvolvimento sustentável. No dia 13/12/18 a coluna Ciência & Matemática, do jornal O Globo, publicou o texto “Biodiversidade: riscos, oportunidades e o impasse brasileiro” que escrevi sobre o 1º Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, um documento robusto elaborado por cerca de 100 autores (professores universitários, pesquisadores, gestores ambientais e tomadores de decisão). O texto é um marco na tomada de consciência do País sobre uma questão urgente da agenda nacional – quanto à importância da nossa megabiodiversidade e o seu papel ambiental, social e econômico como prioridade para 2019. Este documento não poderia ser mais claro quanto ao alerta que emite. Falta uma estratégia política do Estado brasileiro para colocar essa questão no centro das discussões, como algo de interesse e vital para o estado e toda a sociedade brasileira. Essa estratégia não pode prescindir do fortalecimento do programa que deu sustentação aos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, INCTs, grupos de excelência da pesquisa nacional concebidos para fazer a ligação vital entre a universidade e o desenvolvimento tecnológico. O que esperar, nesse sentido, de 2019? Que contribuições a comunidade científica pode dar para que essas expectativas ganhem ressonância frente ao novo governo e possamos avançar em direção a esse objetivo?
Não parece excesso de otimismo acreditar que nos últimos anos vem crescendo a capacidade de pesquisadores e educadores de dialogar com a sociedade. Aumentaram de forma exponencial, nas redes sociais, as iniciativas voltadas para a divulgação científica visando públicos diversos, na forma de sites, blogs e vídeos. Em 2018 essa onda positiva foi claramente visível, ao mesmo tempo em que se registrava um número expressivo de projetos e subvenções de estímulo à popularização da ciência. Seria interessante saber em que medida o conjunto dessas ações se traduzirá em uma mudança de mentalidade da população quanto ao papel da ciência e dos cientistas na sociedade. Somente essa mudança de mentalidade poderá trazer um cenário auspicioso nas retrospectivas dos próximos anos.
Mas não podemos abrir mão do otimismo e da esperança no ritual na passagem dos doze meses. Que 2019 seja muito bem-vindo.