O dia de ontem, 22 de abril de 2013, vai ficar na memória de crianças e adultos, alunos e professores do povoado de Marudá e arredores, a 14 quilômetros da cidade de Alcântara, no Maranhão. Para pelo menos 300 estudantes e seus professores, que participaram das atividades da Reunião Especial da SBPC no município, foi dia de descobertas e novidades e também de emoção. Muitos deles viram pela primeira vez diante de seus olhos objetos que só conheciam pelos livros ou por fotografia, como um microscópio, por exemplo. Além disso, eles puderam assistir e participar de aulas práticas de ciências, como Biologia, Química, Física e Astronomia, ministrados por docentes e alunos de doutorado e pós-doutorado de várias universidades federais e outras instituições de ensino.
Foi o primeiro dia de atividades da Reunião Especial da SBPC em Alcântara, que se estenderá ao longo de toda a semana. Trata-se da primeira reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da (SBPC) nesse formato, com uma programação toda dirigida para a população local, sem conferências nem apresentação de trabalhos científicos. Ela é destinadas a alunos e professores do ensino básico e agentes de saúde do município. Ontem, as atividades foram realizadas na Escola Municipal Deputado Saboia, de Marudá. Além de seus alunos, também participaram estudantes de escolas de povoadas vizinhos, como Peptal, Cajueiro, Peru e Santa Maria. Todos fazem parte do Polo Educacional de Marudá.
Para muito professores foi uma oportunidade única de ter contato mais concreto com o que ensinam a seus alunos. É o caso de Helena Cavalcante, que leciona Ciências e Geografia para alunos do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental, da Escola Municipal Antônio Lobo, do povoado de Peru. Ela se emocionou ao ver um microscópio pela primeira vez. “A SBPC trouxe um de verdade”, falou, com um misto de incredulidade e admiração. “Eu só conhecia por fotos.” Para a professora, o contato dela e seus alunos com o aparelho vai facilitar e tornar mais interessante as aulas daqui para a frente. “É difícil a gente ensinar sobre algo que só viu pelos livros”, explicou. “Agora, eu e meus alunos vimos um microscópio de verdade e, por meio dele, células reais. Isso não se compara com o que se sabe apenas pela teoria.”
Os alunos de doutorado em Biologia Molecular, Leonardo Nobre, de 27 anos, e Leonardo Cavalheiro, de 29, da Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foram os encarregados de apresentar o microscópio à comunidade estudantil do Polo Educacional de Marudá. Eles mostraram aos estudantes, por meio do equipamento, célula animais e vegetais e do sangue humano, além do verme C. elegans, muito utilizado em experimentos científicos. “A princípio as crianças se mostravam tímidas, mas depois que olhavam pelo microscópio pela primeira vez não queria parar mais”, contou Nobre. “Muitos queriam entrar várias vezes na fila, para ver de novo. É muito gratificante poder trazer equipamentos e conhecimentos para esses estudantes que só tinham contato com eles pelos livros.”
Os alunos confirmam as palavras de Nobre. É o caso de Analice Pinheiro Borges, de 10 anos, estudante do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Barão de Grajaú, do povoado de Cajueiro. Ela disse que adorou a experiência. “Foi muito legal ver as células de animais e plantas e aqueles bichinhos se mexendo [o verme C. elegans]”, contou. “É muito diferente de ver no livro.”
O jovem Eduardo Silva, de 13 anos, aluno do 7º ano, da Unidade Educacional de Alcântara (UECA), que funciona na escola Deputado Saboia, também gostou do microscópio, mas cita a aula de Astronomia como a mais interessante. A atividade, chamada “O Sistema Solar na palma das mãos”, consistia em produzir pequenos planetas com massinha de modelar. A partir deles, os professores das universidades envolvidos no evento da SBPC falavam sobre o Sistema Solar. “Eu modelei Saturno, por causa de seus anéis”, disse Eduardo. “Mas aprendi muito sobre todo o Sistema Solar.”
Além das atividades com o microscópio e sobre o Sistema Solar, os estudantes tiveram palestras de alfabetização científica, sobre temas como a importância da água. Também receberam aulas sobre o DNA, na qual puderam modelar a famosa dupla hélice com o uso balas de goma e cordões. Em outra sala, eles aprenderam sobre os movimentos da Terra em torno do sol. Além disso, puderam construir um carrinho de papelão, movimentado por uma bexiga de ar, com o qual receberam noções sobre a propulsão de foguetes.
Para a diretora da Escola Municipal Deputado Saboia, Marinete Antonia Barbosa, a Reunião Especial da SBPC surpreendeu pelos aspectos positivos. “A SBPC está de parabéns por ter organizado este evento”, declarou. “Os nossos alunos ficaram muito felizes com que o viram, com as experiências que puderam fazer. Eles aprenderam muito e agora querem repetir os experimentos em casa. Eventos como esse devem se realizados mais vezes.”
A presidente da SBPC, Helena Nader, considerou o primeiro dia da Reunião Especial da SBPC em Alcântara um sucesso, que superou as expectativas. “Foi sensacional, deu tudo certo”, disse. “É um evento que vai mudar a cabeça dessa criançada que está participando. Eles estão tendo contato com atividades que vão ampliar seus conhecimentos e podem ter uma influência importante no futuro de cada um deles. Estou muito feliz por termos realizado esta reunião aqui em Alcântara. A partir dessa experiência, vamos realizar um projeto educacional piloto para o município, que será encaminhado ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante.”
(Evanildo da Silveira, de Alcântara)