O lugar das escolas não é para dogmas ou crenças, escola é lugar de ciência. Essa é a principal defesa da Frente Parlamentar em Defesa da Ciência na Escola lançada na tarde desta terça-feira (3) no plenarinho da Assembleia Legislativa, com a presença de professores e representantes de entidades educacionais catarinenses. Durante o evento foi apresentada a Carta do Seminário “Escola é Lugar de Ciência”, realizado em agosto de 2019, com principais diretrizes apontadas pelos participantes, que será encaminhada às instituições de ensino públicas e privadas da educação básica, média, superior e tecnológica de Santa Catarina.
A deputada Luciane Carminatti (PT), coordenadora da frente e proponente da reunião, explicou que em agosto de 2019 foi realizado o 1º Seminário Catarinense “Escola é lugar de ciência”, com a presença de mais de 700 professores e estudantes, na Assembleia Legislativa, onde foi debatido o tema e o lançamento da frente parlamentar. Ela afirma que a frente tem como objetivo acolher todos os encaminhamentos do encontro, como, por exemplo, a promoção de seminários regionais. “Já temos solicitações de seminários no Oeste, Sul, Planalto Norte e no Vale do Itajaí, que tem como meta reproduzir a discussão do encontro realizado na Assembleia, contemplando os institutos federais e as universidades, toda educação básica, infantil, médio e o ensino tecnológico”.
Carminatti salienta que a frente tem como meta ainda dizer à sociedade que lugar da escola não é lugar do dogma, não é lugar da fé, lugar da escola é lugar da ciência. “A escola é lugar do espírito científico, da criticidade, é o lugar da investigação teórica, é o lugar do aprofundamento do experimento. Esse é o papel da escola. Se a escola não fizer isso, ninguém mais vai fazer. Daí nós só teremos um conhecimento parcial, superficial e extremamente precário. Então, esse é o encaminhamento que queremos dar a partir do lançamento frente.”
Durante o evento, ficou definido que serão criados grupos de trabalho, integrado por membros da comunidade científica e educacional catarinense, que tem uma organização própria em cada região, para definir as datas e locais dos seminários regionais.
O secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência de Santa Catarina (SBPC-SC), André Ramos, observou ainda que durante o seminário em 2019 e no lançamento da frente parlamentar ficou claro que há uma necessidade de políticas públicas que implementem a cultura da ciência nas escolas. “Apesar de já existir previsão de base curricular, sabemos que a ciência nas escolas ainda é precária. Precisamos de programas específicos que fomentem a ciência nas escolas, como estimular os professores da rede pública a se dedicarem a pesquisa, que isso possa ser previsto na carga de trabalho dos professores, que a atividade voltada à ciência possa ser considerada no plano de carreira do professor.”
Ramos diz ainda que a frente parlamentar pretende também estimular que se realizem pesquisas nas escolas. “Isso não é uma prática comum nas escolas brasileiras. Historicamente, muito pouco apoio foi realizado para que de fato exista uma vivência cientifica de qualidade nas escolas, até porque isso passa pela formação e valorização de professores.” Integram também a frente os deputados Fabiano da Luz (PT), Neodi Saretta (PT), Marlene Fengler (PSD), Paulinha (PDT), Valdir Cobalchini (MDB), Ada De Luca (MDB) e Luiz Fernando Vampiro (MDB).
“Escola é lugar de ciência”
No dia 26 de agosto de 2019, a Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência de Santa Catarina (SC), a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de SC e o Fórum Estadual Popular de Educação de SC, com apoio da Secretaria de Estado de Educação (SED), promoveram o 1º Seminário Catarinense “Escola é Lugar de Ciência”.
O evento inédito, que contou com 713 inscrições (em sua maioria de professores da rede pública, pesquisadores e estudantes universitários), além de qualificar o debate sobre o tema, serviu para dar início a um momento de reafirmação da identidade do sistema de ensino de SC e de seus atores.
Desse encontro nasceu o presente documento, que se propõe a resumir suas principais deliberações, de forma a nortear as ações de um processo institucional e coletivo de resgate do papel da Ciência nas escolas catarinenses.
A Ciência, como forma universal de ver o mundo e de com ele se relacionar, deve ser o alicerce da formação escolar. Ela estimula o pensamento crítico, o exercício da liberdade, a capacidade de criação e o espírito inovador, visando o desenvolvimento intelectual, social e econômico da sociedade. Com base nas diretrizes de uma educação democrática, todo/a estudante deve ter acesso a saberes científicos provenientes de todas as áreas do conhecimento humano.
Uma formação cientificamente embasada preparará cidadãos e cidadãs para viverem em um mundo cada vez mais global, tecnológico e complexo. Para isso, necessitamos de uma estratégia política e pedagógica que dê suporte à formação de professoras e professores, estimulando a pesquisa nas escolas, em constante interação com a comunidade científica.
Visando atingir tais objetivos, elencamos a seguir as principais diretrizes apontadas pelo seminário “Escola é Lugar de Ciência”:
– Construção e fortalecimento de políticas públicas para o desenvolvimento de uma cultura científica nas escolas de educação básica de SC.
– Aperfeiçoamento dos currículos escolares, de forma a contemplar todas as dimensões do conhecimento científico.
– Criação de um fórum permanente de divulgação de práticas exitosas de ciências nas escolas.
– Que a SED, juntamente com a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de SC (Fapesc) e as entidades promotoras desse seminário (que se constituirão como referência para a formação de educadores pesquisadores), promova programas de incentivo à pesquisa nas escolas e contemple a pesquisa e a produção científica nos planos de carreira docente.
– Institucionalização de um seminário estadual e de seminários regionais “Escola é Lugar de Ciência” com periodicidade anual.
-Aproximação entre as universidades e institutos catarinenses e as escolas de educação básica.
-Em que pese o caráter democrático do espaço escolar, no qual ideias, opiniões e crenças devam ser respeitadas e livremente expressas, é no conhecimento científico, construído universalmente de acordo com princípios e métodos aceitos pela comunidade internacional, que devem estar fundamentos os conteúdos curriculares ministrados nas escolas de SC.