Altos preços cobrados por revistas acadêmicas estrangeiras restringem potencial da ciência brasileira

Apesar de custos expressivos para acessar publicações renomadas, produção científica do País segue em expansão. Para Paulo Artaxo, professor da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente da SBPC, é preciso desenvolver um novo mecanismo que satisfaça as particularidades da ciência

Um período no exterior ajudou o estudante de medicina da UFRGS João Ferrari-Souza, 23 anos, a publicar os achados de sua pesquisa de doutorado em duas das principais revistas científicas do mundo em sua área. O jovem pesquisador investiga como aspectos genéticos influenciam a progressão do mal de Alzheimer no cérebro humano e passou um ano e meio na Universidade de Pittsburgh, nos EUA, analisando dados clínicos de pacientes canadenses.

— Minha parte da pesquisa é usar neuroimagens, como exames de ressonância magnética e tomografia por emissão de pósitrons, para entender melhor a progressão da doença de Alzheimer e ajudar no diagnóstico precoce — explica Ferrari-Souza, que participa de um programa de estudos MD-PHD, o que permite a estudantes de Medicina cursar um doutorado ao mesmo tempo em que faz a graduação, de modo que a defesa da tese ocorre após a formatura médica.

Em agosto do ano passado, um de seus artigos saiu na Molecular Psychiatry, da editora Nature. Agora, foi aceito mais um para a revista Science Advances, da Science. Isso além de outras publicações em periódicos internacionais assinadas em conjunto com colegas que atuam no laboratório de neuroimagem Zimmer Lab, coordenado pelo professor da UFRGS Eduardo Zimmer e universidades estrangeiras.

Ambos os artigos de Ferrari-Souza foram publicados em acesso aberto, ou open access, modalidade que tem turbinado uma polêmica na comunidade científica global. Isso porque revistas internacionais, que têm alta relevância para o currículo de pesquisadores, cobram altos valores dos autores pela disponibilização do conteúdo. No caso do jovem pesquisador, seus artigos custaram quase US$ 5 mil cada, cerca de R$ 25 mil na cotação atual.

— Tive bastante sorte porque fui estudar em um laboratório que tem por política pagar o open access das publicações de todos os alunos. É um custo elevado que não teríamos como arcar aqui no Brasil — diz o estudante de medicina e doutorando em bioquímica, que retornou ao país em dezembro.

Veja o texto na íntegra: Zero Hora