
Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, pesquisadora do Laboratório Nacional de Computação Cientifica (LNCC/MCTI), diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), foi eleita Fellow da Sociedade Internacional para a Biologia Computacional (International Society for Computational Biology – ISCB). Ela é pioneira da área de bioinformática no País e se tornou a primeira brasileira a ingressar na entidade.
O programa de Fellows busca premiar a excelência e reconhecer indivíduos com contribuições significativas para a biologia computacional ao longo de suas carreiras. “Essa é uma área relativamente nova, não se compara a outros campos da biologia que já existem há séculos. A bioinformática começou quando os cientistas perceberam que seriam necessárias ferramentas matemáticas e computacionais para interpretar o imenso volume de dados obtidos com o sequenciamento dos genomas. Isso aconteceu há menos de 40 anos”, explicou.
Segundo ela, a bioinformática é uma área em que o Brasil pôde começar junto com o resto do mundo. “Foi um desenvolvimento muito rápido no mundo inteiro e inclusive no Brasil, onde alguns pesquisadores já fizeram parte dessa primeira geração. Hoje estamos muito bem desenvolvidos, com muita pesquisa de ponta e muitos programas de pós-graduação. Formamos muitos alunos e temos grupos consolidados publicando em boas revistas”, analisou.
A pesquisadora espera que o reconhecimento abra portas para mais brasileiros e brasileiras, em especial. “É o maior prêmio internacional da minha área e ser a primeira brasileira eleita é muito importante para que cada vez mais nossos pesquisadores sejam reconhecidos também. Acredito que este é um marco importante para a área no Brasil, pois estar neste prêmio significa que a sociedade internacional reconhece os pesquisadores de todo o mundo. Fiquei ainda mais feliz por ser mulher. Conquistar esse prêmio como mulher demonstra que podemos estar onde desejamos. Espero que essa premiação abra portas para que outros pesquisadores brasileiros da área – e temos muitos excelentes no Brasil – também possam ser indicados e premiados. Que minha conquista sirva, de alguma forma, como inspiração, especialmente para as meninas que atuam nessa área. Este prêmio prova que podemos alcançar nossos objetivos; para isso, basta a gente querer e trabalhar”, finalizou.
Atualmente, Vasconcelos é pesquisadora do Laboratório Nacional de Computação Cientifica (LNCC/MCTI) onde coordena o Laboratório de Bioinformática (LABINFO) e a Unidade Genômica Darcy Fontoura de Almeida, onde desenvolve pesquisas genômicas e cria ferramentas que impactam desde a agricultura e a conservação ambiental até a biotecnologia e, é claro, a saúde humana. “Publicamos trabalhos importantes durante os surtos de zika e chikungunya que ajudaram a aumentar a compreensão sobre esses vírus. Durante a pandemia da covid-19, identificamos novas variantes do SARS-CoV-2 e liberamos os dados para que todos soubessem o que estava acontecendo. Além da vigilância genômica, também tivemos contribuições importantes no estudo da relação entre os vírus e seus hospedeiros”, explicou.
Vasconcelos possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado em Ciências Biológicas (Genética) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutorado Universidade do Texas – MD Anderson Cancer Center, Estados Unidos. Foi professora visitante na Université Claude Bernard Lyon 1, LYON I, França (2010-2011).
Ela já foi conselheira da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (2015-2019) e faz parte da Diretoria da SBPC desde 2021. Foi vice-presidente da Associação Interciência para o Progresso da Ciência na América (2020-2023), onde organizou uma série de debates com representantes de mais de 16 países da América em temas tais como o panorama da covid-19 na América e sobre Meio Ambiente. É cientista do Estado do Rio de Janeiro e pesquisadora 1A do CNPq e foi membro do CA de Genética do CNPq.
Ela também coordenou o primeiro projeto Genoma de abrangência nacional e teve papel primordial para a consolidação da genômica e bioinformática no Brasil. Em 2008, criou a Unidade de Genômica Computacional Darcy Fontoura de Almeida, e em 2015 criou a Rede Nacional de Bioinformática que disponibiliza softwares de interesse da comunidade científica. Participa ativamente da formação de recursos humanos promovendo cursos de abrangência nacional e internacional.
Vivian Costa – Jornal da Ciência, com informações da ABC