O ano de 2025 foi oficialmente declarado pela Unesco como o Ano Internacional da Ciência e das Tecnologias Quânticas, celebrando um século desde a proposta revolucionária do físico francês Louis de Broglie. Sua tese de 1925, que introduziu a ideia de que a matéria possui uma natureza ondulatória, inspirou os trabalhos fundamentais de Werner Heisenberg e Erwin Schrödinger, considerados marcos da Mecânica Quântica. Embora a famosa equação de Schrödinger tenha sido publicada apenas em 1926, as bases conceituais dessa teoria transformadora começaram a ser lançadas um ano antes. Isso é o que discute artigo da nova edição da revista Ciência & Cultura, que celebra o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quânticas.
Esse movimento científico global encontrou eco, surpreendentemente, também no Brasil. Em 1923, dois anos antes da tese de De Broglie, o engenheiro e matemático brasileiro Theodoro Ramos, então um jovem ligado à Universidade de São Paulo, publicou o primeiro trabalho científico brasileiro sobre sistemas quânticos. Esse episódio é um sinal de como, mesmo com uma comunidade científica ainda incipiente, o Brasil acompanhava com atenção os debates e descobertas que, em breve, iriam revolucionar o conhecimento e impulsionar o desenvolvimento de novas tecnologias.
Hoje, as tecnologias quânticas prometem transformar radicalmente setores como a computação, a criptografia e a comunicação. Contudo, o Brasil enfrenta desafios importantes. Embora o país tenha construído, ao longo das últimas décadas, uma rede colaborativa de excelência na área de Informação Quântica, essa estrutura sofreu um duro golpe com os resultados dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) em 2025, que desarticularam diversos grupos de pesquisa atuantes nesse campo. Esse cenário evidencia como o sistema acadêmico brasileiro, ainda muito pautado pelo ciclo tradicional de artigo, tese e bolsa, acaba por desincentivar projetos de alto risco e grande potencial transformador.
Enquanto isso, em outros países, a dinâmica é diferente. Nos Estados Unidos, por exemplo, a busca pela liderança nas tecnologias quânticas é tratada como uma prioridade estratégica. Em janeiro de 2025, o Center for Strategic and International Studies (CSIS) publicou um relatório recomendando ações enérgicas para garantir que os EUA não percam essa corrida tecnológica, evitando um novo “episódio Sputnik”. Entre as medidas sugeridas estão: assegurar o suprimento de matérias-primas essenciais, restringir a venda de dispositivos quânticos para países considerados “adversários” — categoria em que o Brasil figura —, e atrair jovens talentos estrangeiros da área para trabalhar nos EUA. “Há em curso uma corrida mundial acirrada em torno das tecnologias quânticas de segunda geração”, ressalta Ivan S. Oliveira, líder do Grupo de Processamento da Informação Quântica por RMN e pesquisador titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
O centenário das bases da Mecânica Quântica nos lembra da importância do conhecimento científico para impulsionar o desenvolvimento humano. Porém, também evidencia os riscos de se negligenciar investimentos estruturais em pesquisa de fronteira, especialmente em um contexto global marcado por tensões geopolíticas e competição tecnológica. “A física brasileira precisa urgentemente adotar estratégias para agregar valor à sua já excelente qualidade acadêmica”, defende Ivan S. Oliveira.
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