Matéria publicada na revista Science em 5 de março mostra que geólogos votaram contra uma proposta que tramitava há dez anos para definir o marco que poderia indicar o fim do Holoceno – o nosso período atual de tempo geológico, que começou há 11.700 anos, no final da última era glacial – e inaugurar uma nova época, o Antropoceno, que marca a influência humana no clima.
A forte influência das ações humanas ficou mais marcada a partir da década de 1950, mas a questão em discussão é que não é possível determinar um marco estratigráfico preciso e específico para definir geologicamente como o início de uma nova era geológica, o Antropoceno.
Os geólogos favoráveis defendem que o Antropoceno é digno de reconhecimento na escala temporal geológica. Já uma parte da comunidade geológica afirma que os indícios ainda não são suficientes para determinar uma nova Era, do ponto de vista geológico. Dizem, por exemplo, que o marcador proposto para a época – cerca de 10 centímetros de lama do Lago Crawford, no Canadá, que capta o aumento global da queima de combustíveis fósseis, da utilização de fertilizantes e da precipitação radioativa da bomba atómica que começou na década de 1950 – não é suficientemente estável e definitivo.
Além disso, como descrito na revista Science, “questionam se é mesmo possível fixar uma data para o início da ampla influência planetária da humanidade: por que não a ascensão da agricultura? Por que não as grandes mudanças que se seguiram à invasão europeia no Novo Mundo? Ou as explosões nucleares na atmosfera?
Os favoráveis à necessidade de ter um marco baseado em estratigrafia estável o suficiente para servir como marco geológico da Era do Antropoceno, agora, precisarão esperar outros dez anos para que uma nova proposta seja considerada novamente. Enquanto isso, defendem a opinião de que devemos utilizar um termo geológico informal, chamando-o de “evento do Antropoceno”. Importante salientar que não se nega a forte influência humana nos ecossistemas terrestres, mas que tão somente é preciso definir um marco estratigráfico que seja estável e forte o suficiente, de acordo com os demais marcos geológicos.
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Paulo Artaxo, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC