Apesar de bom diálogo com governo Lula, há discordâncias e promessas a serem cumpridas em Ciência e Tecnologia

Indústria do armamento e pesquisa são pontos que precisam de revisão, disse ao GGN o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro

O ex-ministro da Educação e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro, disse em entrevista ao programa TV GGN 20 Horas, com o jornalista Luis Nassif, [confira neste link] que apesar dos bons propósitos do governo Lula na Ciência e Tecnologia, ainda há discordâncias sobre o repasse de verbas destinadas à indústria de armamento e pesquisa, bem como promessas a serem cumpridas.

“Por exemplo, antes da posse do Celso Pansera na Finep, essa entidade, ainda sob a direção de generais, decidiu dar 180 milhões [de reais], se não me engano, para uma fábrica [Taurus] de armas. Não apoiamos isso”.

Janine se refere ao contrato firmado em março entre a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a fábrica Taurus, uma empresa brasileira conhecida pela fabricação de armas de fogo e outros produtos relacionados à indústria da defesa e segurança.

“Eu sei que fábricas de armamentos têm muito a ver com desenvolvimento científico e tecnológico, mas veja: na ciência, durante muito tempo, a principal invenção do século 20 era a bomba atômica. Hoje, a gente já não pensa nisso, pensa na descoberta do DNA, no computador. É uma coisa mais voltada para a paz”.

Outros pontos a melhorar

Segundo Janine, há ainda um descontentamento com o orçamento federal destinado à pesquisa, cuja verba é dividida em valores reembolsáveis e não-reembolsáveis.

“Nós queríamos 75% de não-reembolsável, conversamos muito com o governo e chegamos a um acordo de 60%. Quando chegou o orçamento, saiu 50%. Então ficamos decepcionados, inclusive manifestamos isso ao presidente Lula”.

Janine explica que o empréstimo reembolsável é feito com juros amigáveis e o não-reembolsável é direcionado à pesquisa. Ou seja, de um modo geral, a universidade e o mundo da pesquisa ficam com o não-reembolsável, e as empresas, com o reembolsável, até porque, “é um juro bom para elas”, mas é “um juro que universidade não tem como pagar, porque a universidade depende de dinheiro do governo”, o que explica o pedido por 75%.

Além disso, há promessas que precisam ser cumpridas em ciência e tecnologia. Mesmo com a pobreza do País, Janine ressalta que o Brasil “deve definir liderança em alguns pontos, como biodiversidade, Amazônia, diversidade cultural, em vários pontos em que o Brasil é fabuloso, é muito bom, então, nós temos que definir esses pontos e trabalhar com afinco na direção deles. (…) Isso tudo é essencial para o desenvolvimento do país”.

Diálogo

Mesmo com muito a avançar, para Janine, “agora estamos tendo gente com quem dá para conversar, um governo que sabe dos assuntos, que conhece. A equipe do MCTI [Ministério de Ciência e Tecnologia] é uma equipe boa, têm vários secretários que são altamente qualificados, o presidente do CNPq [Ricardo Galvão], a presidente da CAPES [Mercedes Bustamante]. Estou falando com quem a gente dialoga mais, o Celso Pansera na Finep”.

Assista à entrevista: https://youtu.be/JHKRfqqWfCE

Jornal GGN