O Brasil tem vantagens estratégicas para enfrentar o aquecimento global em comparação com outros países, mas também tem vulnerabilidades importantes que precisam ser enfrentadas. O alerta é do físico Paulo Artaxo, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ele fez a análise durante a conferência “Mudanças climáticas, seus impactos no Brasil e a construção de uma sociedade sustentável”, proferida nesta terça-feira (26/7), segundo dia da programação da 74ª Reunião Anual da SBPC.
Após uma apresentação dos principais indicadores apontados no último relatório do IPCC, Artaxo enfatizou os prós e contras do Brasil, do ponto de vista de soluções, frente aos efeitos das mudanças climáticas.
Uma delas, afirmou, é a possibilidade de reduzir 44% de emissões em seis anos, até 2028, sem qualquer prejuízo à sociedade, na verdade com ganhos ambientais. “O Brasil tem potencial solar e eólico que nenhum outro país do planeta tem, particularmente no Nordeste”, afirmou. No entanto, países como Suécia e Alemanha, com muito menos recursos naturais, geram mais energia solar e eólica que o Brasil.
Outra vantagem estratégica está no programa de biocombustíveis já consolidado, que pode ser extremamente útil em uma época de transição energética dos combustíveis fósseis. “Temos um potencial de sequestro de carbono que nenhum outro país do planeta tem, com potencial geração de renda através do mercado de carbono”, reiterou.
Por outro lado, ele listou como importantes vulnerabilidades a economia baseada no agronegócio – que pode não ser tão viável já nos próximos anos – e uma forte participação de hidroeletricidade na matriz energética, fonte que, embora limpa, é dependente do clima e da quantidade de chuvas. “Temos 8.500 km de áreas costeiras que são muito vulneráveis ao aumento do nível do mar e o Nordeste brasileiro, com aumento da temperatura projetado e o decréscimo de precipitação, pode não ser uma região viável já nas próximas décadas”, afirmou.
Tanto a energia quanto a produção agropecuária no Brasil estão fortemente vinculadas aos efeitos do aquecimento global, tanto na produção desse aquecimento (devido às emissões de metano e ao desmatamento) quanto nos efeitos (eventos extremos).
Paulo Artaxo chamou a atenção para a relevância de se perceber os riscos climáticos que afetam também a biodiversidade do planeta que é dependente diretamente do clima e das ações humanas, da estrutura da sociedade, o modo de consumo e sistema socioeconômico. “O que precisamos fazer é obter opções para reduzir os riscos climáticos e aumentar a resiliência da nossa sociedade às mudanças climáticas”.
Segundo ele, não há receitas simples, nem fáceis para lidar com essa é a “tarefa da nossa geração”. Por isso, será necessária muita ciência, em todas as áreas do conhecimento para construir um caminho que vai dos riscos para as soluções. “Ninguém tem solução do bolso do colete”, afirmou.
Veja a apresentação neste link.
Jornal da Ciência