A 66a SBPC Jovem mostra ciência para as famílias de meninos e meninas de ensino médio: senso e sensibilidade em busca de um Brasil educado.
Rio Branco, capital do Acre, estado brasileiro localizado no sudoeste da Amazônia e geograficamente o ponto mais ocidental do Brasil (estado da federação mais próximo do Pacífico), foi palco do maior evento da ciência nacional, a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Este ano, em sua 66a edição congregou mais de 25000 participantes: professores, pesquisadores, cientistas, estudantes, políticos, empresários e outros segmentos da sociedade, em torno da temática “Ciência e Tecnologia em uma Amazônia sem Fronteiras”, questão chave não apenas do desenvolvimento regional mas também do próprio país, como reconhecem cientistas e representantes de governo reunidos semana passada na Universidade Federal do Acre durante a 66a SBPC. Mas o que me leva a escrever esta pequena nota, foram as atividades da SBPC Jovem, e por que? Aproximar os meninos e meninas da ciência é também um compromisso de todos nós. Os jovens brasileiros têm uma grande responsabilidade para com o Brasil de amanhã, e assim, a construção do país que almejamos passa necessariamente pela formação de excelência destes meninos e meninas, em todos os níveis escolares.
Num cenário social que requer cada vez mais a intervenção da ciência para identificar, explicar e propor soluções para problemas de toda ordem que afetam não apenas a sociedade brasileira, mas a própria sustentabilidade do planeta, acredito que o trabalho que a SPBC Jovem vem editando desde 1993 é louvável e digno de divulgação e muitas notas como esta. A SBPC Jovem 2014 levou o tema Ciência e Tecnologia em uma Amazônia sem Fronteiras não apenas ao público jovem das escolas de ensino médio; ela foi muito além, ao convidar todas as famílias destes jovens para participarem das diversas oficinas de ciência e arte, palestras, atividades interativas, reuniões com cientistas, representantes de vários segmentos sociais além de exposições e vídeos. Fiquei emocionada com o anúncio exposto num quadro negro, escrito com giz, numa escola pública de bairro de Rio Branco, convocando todas as famílias dos alunos ali matriculados. Fotografei pois coisas assim devem ser memorizadas e divulgadas.
Verificamos hoje uma mídia escrita, eletrônica e de TV dedicada às notícias mais sensacionalistas, a maioria sobre assassinatos, catástrofes e miséria humana em todos os sentidos. Se nossos meios de comunicações dedicassem diariamente alguns poucos minutos de suas notícias à divulgação dos encantos e fascínios da ciência, certamente teríamos uma sociedade mais instruída e consciente de seu papel e responsabilidade nas mudanças que o país tanto demanda. Tendo em conta a abrangência e o número de participantes, a reunião anual da SBPC é, sem dúvida, o melhor fórum para estimularmos a divulgação de ciência e também ampliarmos a discussão sobre ciência no sentido mais amplo para toda a sociedade. É imperativo estarmos, enquanto comunidade, preparados para responder às questões que a sociedade demanda no que diz respeito à ciência como instrumento de desenvolvimento econômico e social sustentável. No conjunto dos temas que merecem nossa atenção particular, alguns pontos se destacam. O primeiro, e mais importante, a meu ver, é a educação. Não é nosso papel formular políticas educacionais para o país. Mas nossa experiência na universidade e na pesquisa, nos torna agentes qualificados para falar sobre o ensino das ciências. Para apontar as demandas que mais afetam a formação de nossos estudantes e para propor alternativas que venham reduzir essas enormes carências.
Parabéns à SBPC, parabéns à presidente, nossa querida Helena Nader, ao secretário geral Aldo Malavasi e aos demais membros da Diretoria, que vem imprimindo uma gestão dinâmica e rica de ações voltadas para a divulgação da ciência em todos os níveis, num país ainda marcado por enormes diferenças regionais. Colocar as famílias dos meninos e meninas neste processo foi uma bela ação da SBPC. Trazer as famílias para participar das várias atividades programadas é também uma maneira de criar uma consciência crítica de toda a comunidade em torno da realidade educacional do país, ainda constrangedora no que se refere ao ensino de ciências em muitos locais da federação. Nesse sentido, a SBPC tem tudo a dizer e pode contribuir com criação de uma nova mentalidade sobre a importância da ciência para o Brasil e para seus cidadãos. Uma mentalidade que motive nossos jovens a ver o conhecimento científico não como uma obrigação curricular, mas sim como o instrumento maravilhoso para desvendar os segredos do mundo.
Vanderlan da Silva Bolzani
Professora Titular do IQ-UNESP, Araquara
Membro do Conselho Consultivo da SBPC