A trajetória de Berta Ribeiro, antropóloga e museóloga, se entrelaça com a história do Brasil e de seus povos originários. Nascida na Romênia em 1924, em uma família judaica, Berta chegou ao Brasil ainda criança, em 1932, fugindo do antissemitismo. Quinze anos depois, após ser separada da família, conheceu e casou-se com o antropólogo Darcy Ribeiro, com quem formou uma parceria de vida e trabalho. Juntos, mergulharam no estudo das culturas indígenas, ajudando a preservar e valorizar o patrimônio material e imaterial desses povos. Isso é o que discute reportagem da edição especial da Ciência & Cultura, que celebra o centenário de Berta Gleizer Ribeiro.
Ao longo dos anos, Berta Ribeiro construiu um legado singular, participando ativamente da organização de acervos e exposições, como no Museu Nacional dos Povos Indígenas, antigo Museu do Índio. Suas pesquisas sobre grafismos e a vida cotidiana das comunidades que visitou se destacam até hoje. Além disso, sua obra escrita, como o “Dicionário do Artesanato Indígena”, publicado em 1988, continua sendo referência no campo da etnologia e antropologia. “O trabalho de Berta Ribeiro já reconhecia os direitos dos povos indígenas como proprietários intelectuais de suas expressões culturais tradicionais e dos saberes compartilhados”, aponta Fernanda Kaingáng, Diretora do Museu Nacional dos Povos Indígenas.
Para a historiadora Bianca França, que dirigiu o documentário “Para Berta, com amor”, o trabalho de Berta trouxe visibilidade para as culturas indígenas e ajudou a mudar a percepção pública sobre esses povos, combatendo estigmas e preconceitos. “O trabalho dela traz importantes diálogos até mesmo com questões contemporâneas, como o debate sobre o papel do indígena na preservação do meio-ambiente, o papel dos museus como ferramentas pedagógicas e político-polêmicas, além de áreas de lazer, e a necessidade de nós, cientistas, levarmos nossas pesquisas em linguagem compreensível às massas”, pontua. Fernanda Kaingáng, por sua vez, destaca que o legado da antropóloga contribuiu para a criação de políticas públicas, como a Lei 11.645/2008, que tornou obrigatório o ensino da história e culturas indígenas nas escolas brasileiras.
Berta Ribeiro faleceu em 1997. Quase três décadas depois, seu trabalho permanece vivo, servindo como base para debates contemporâneos sobre preservação ambiental e o papel dos indígenas na manutenção de suas culturas. Em 2024, quando completaria 100 anos, seu legado segue influenciando a antropologia, a museologia e as políticas de preservação cultural no Brasil. “Berta Ribeiro era uma visionária, uma mulher à frente do seu tempo, cujo trabalho consiste em um legado valioso para a memória, a valorização, a salvaguarda e a promoção do patrimônio cultural dos povos indígenas do Brasil”, reforça Fernanda Kaingáng.
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