A humanidade vive um paradoxo: depende da biodiversidade para sobreviver, mas ao mesmo tempo contribui para sua destruição. A supressão de habitats, a poluição e a expansão de atividades humanas como agricultura, pecuária e mineração aceleram a extinção de espécies e comprometem funções vitais dos ecossistemas. Os efeitos se estendem para além da perda de animais e plantas, provocando desequilíbrios ambientais, proliferação de doenças e riscos crescentes para as populações humanas. Especialistas alertam que, embora a extinção seja irreversível, ainda é possível mitigar danos e criar condições para a sobrevivência de ecossistemas remanescentes, inclusive em áreas urbanas. Isso é o que discute artigo da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “Cidades e Meio Ambiente”.
O conceito de biodiversidade, definido pelo biólogo Edward Wilson, abrange desde organismos microscópicos até plantas, animais e seres humanos, em múltiplas dimensões: genética, de espécies, de ecossistemas e das interações que mantêm o equilíbrio ambiental. No Brasil, essa ideia se conecta também à sociobiodiversidade — a relação entre diversidade biológica e cultural — e à agrobiodiversidade, ligada às práticas agrícolas tradicionais. Preservar essa diversidade é essencial para garantir alimentos, água, medicamentos, regulação climática, polinização e controle de pragas. No entanto, o avanço da degradação ambiental nos últimos séculos exige ações urgentes de conservação, especialmente diante da expansão das cidades. “As cidades não são inimigas da natureza: podem ser refúgios de biodiversidade se planejadas de forma integrada e inclusiva”, afirma Sueli Angelo Furlan, professora do Departamento de Geografia da FFLCH- USP.
Desde o século XX, diferentes abordagens vêm buscando integrar natureza e urbanização. Metáforas como “florestas urbanas”, “infraestrutura verde” e “soluções baseadas na natureza” passaram a traduzir a importância da biodiversidade para a qualidade de vida nas cidades. A arborização urbana, por exemplo, é uma prática antiga que hoje se conecta a essas novas estratégias, funcionando como ferramenta para reduzir impactos de enchentes, ondas de calor e outros efeitos das emergências climáticas. Ainda assim, o crescimento urbano, muitas vezes orientado pela lógica da capitalização de todos os espaços, continua competindo com soluções ambientais, o que dificulta a regeneração ecológica.
Estudos recentes reforçam a urgência desse debate. De acordo com a ONU-Habitat, mais da metade da população mundial já vive em áreas urbanas, e a estimativa é que esse percentual alcance 68% até 2050. No Brasil, que concentra cerca de 20% da biodiversidade global, cidades como São Paulo ainda preservam fragmentos significativos de Mata Atlântica, cerrados e campos, embora distribuídos de forma desigual. Ferramentas como o Índice de Biodiversidade das Cidades vêm sendo aplicadas para orientar políticas públicas, demonstrando que quintais, praças e parques podem se tornar refúgios de fauna e flora quando planejados com espécies nativas e integrados a corredores ecológicos. “Reconstruir o elo entre sociedade e natureza é condição essencial para enfrentar a crise climática no espaço urbano”, enfatiza Sueli Furlan.
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