Novos estudos mostram que cada vez mais cientistas brasileiros estão deixando o País para buscar melhores oportunidades no exterior. Este movimento é chamado de fuga dos cérebros e chama a atenção das autoridades.
Para chegar até o almejado cargo de cientista pesquisador, a jornada é longa. São anos e anos de estudo, dedicação e muita resiliência para enfrentar os desafios da vida acadêmica todos os dias.
Com o Nicolas Hoch, que é professor de bioquímica da USP, a carreira foi mais ou menos assim. Para poder realizar o sonho de ser um cientista, ele optou por deixar o Brasil para cursar doutorado na Austrália e pós-doutorado no Reino Unido, locais que, segundo ele, são mais preparados para o mundo da ciência.
“Durante minha iniciação científica, na graduação eu comecei a ler os artigos comecei a ver os tipos de técnicas, o tipo de pesquisa que era feito lá fora. E você ver que não era possível de fazer aqui no Brasil. Então eu quis conhecer esse mundo, aprender lá fora”, conta.
Após uma década no exterior, ele então retornou ao Brasil – uma decisão difícil de ser tomada. A saída de brasileiros do território nacional está acima da média em 2023. Segundo o levantamento feito pela Receita Federal, só até o mês de setembro, quase 20.000 pessoas deixaram o Brasil de forma definitiva.
“Às vezes a questão é econômica. Nem todos os que acabam ‘fugindo’, para fundamentar o termo ‘fuga de cérebros’, para outros países, ou acabam aceitando essas oportunidades, nem sempre eles estão fugindo efetivamente de questões sociais e econômicas. Às vezes eles, só estão desalentados com a falta de perspectiva de crescimento em seus países de origem”, diz Jorge Boucinhas, professor de Administração da FGV.
Especialistas também chamam este movimento de “a diáspora de cientistas brasileiros”. Cada pesquisador possui o seu próprio motivo para deixar o
País, muitos procuram por melhores condições de vida para suas famílias, ou então por uma nova oportunidade no mercado de trabalho internacional. Mas um motivo é unânime entre todos eles: buscar governos que deem mais valor e importância para a ciência.
“Ela tem muito a ver com as condições de trabalho, com as condições de fazer pesquisa. Depois vai aparecer a remuneração no exterior que seria melhor, as melhores oportunidades de progressão na carreira, a possibilidade de participar na fronteira do conhecimento e, uma das penúltimas motivações dentre as principais, é a situação política no Brasil ”, observa Ana Maria Carneiro, coordenadora do Laboratório de Estudos de Educação Superior (LEES) da Unicamp.
Segundo o levantamento feito pela Unicamp, os cientistas brasileiros estão espalhados por 42 países, mas com uma concentração maior nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa ocidental – em países como Alemanha, Reino Unido, Portugal, França e Espanha – territórios tradicionais quando o assunto é Ciência.
“Nós acabamos dando mão de obra muito qualificada para esses países de graça. Então eles vão auferir vantagens a partir de quem nós formamos. E a causa disso é muito simples: é a falta de perspectiva no Brasil. Não é a ganância, não é vontade de ganhar mais, porque eu conheço vários cientistas altamente qualificados que tiveram propostas muito boas lá fora e não foram. Então não é a busca do melhor emprego, é realmente a falta de perspectiva no Brasil que leva a isso”, comenta o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Renato Janine Ribeiro.
Com a saída de tanta mão de obra qualificada, o desafio agora é poder repatriar os talentos brasileiros. E que não sejam somente por razões pessoais, mas também por reconhecerem o Brasil como um país que possa ser protagonista da ciência.
Assista à reportagem: CNN