Segundo dia de encontro discute interdisciplinaridade nas agências de fomento à ciência no Brasil e no exterior
O segundo dia do 3º Encontro Acadêmico Internacional – Interdisciplinaridade nas Universidades Brasileiras – Resultados e Desafios, que aconteceu dia 14 de maio, teve na parte da manhã dedicada a discussão sobre a prática da interdisciplinaridade em órgãos de fomento no Brasil e no exterior. Foram compartilhadas experiências de algumas das mais importantes entidades no país e da National Science Foundation dos Estados Unidos, uma das mais significativas agências de fomento do planeta. O evento aconteceu no edifício-sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em Brasília.
Sob o tema, “Interdisciplinaridade nas agências de fomento e nas entidades de representação científica”, a primeira mesa do dia reuniu o presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP) Sérgio Luiz Gargioni, o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva e a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader.
De acordo com o presidente do CNPq, a ciência brasileira é fortemente moldada pelas agencias de fomento. “Não podemos fugir dessa responsabilidade. Pelo papel fundamental no financiamento, as agências de fomento definem o que está sendo produzindo como ciência no país”, ressaltou. Dessa maneira, Glaucius Oliva lembrou os desafios dos órgãos para incorporar a interdisciplinaridade. “O ambiente acadêmico pode ser refratário a novas experiências, encastelado nas especialidades. Inter e multidisciplinariedades são as formas da melhor ciência que se produz hoje em dia”, afirmou.
Entre as ferramentas citadas por Oliva para melhor incorporação da interdisciplinaridade , estão algumas novidades da Plataforma Lattes, que valorizam a qualidade e a inovação. “Devemos prestar atenção a possíveis distorções, caso os critérios de avaliação forem puramente numéricos, premiando somente a quantidade e não qualidade”, enfatizou.
A presidente da SBPC, Helena Nader, compreende a congregação de sociedades científicas realizadas pela SBPC como uma experiência de interdisciplinaridade. “A SBPC e Academia Brasileira de Ciências (ABC) unem grupos interdisciplinares de cientistas que atuam diretamente buscando influir na elaboração de políticas públicas de interesse da ciência, tecnologia e inovação”, explicou.
Como exemplo, Helena Nader citou a próxima Reunião Anual da SBPC, que será realizada no período de 22 a 27 de julho de 2014 na Universidade Federal do Acre. Entre os temas a serem debatidos, estão a enchente do Rio Madeira, numa discussão que irá reunir de cientistas ambientais a antropólogos. “A interdisciplinaridade deve ser entendida como o caminho ideal para a organização das instituições científicas”, concluiu.
Experiência internacional
Os desafios da interdisciplinaridade também estão presentes nas experiências das grandes agências de fomento internacional. Esse foi um dos pontos discutidos pela diretora do Science of Learning Centers da National Science Foundation, Soo-Siang Lim. “Estabelecemos esses novos centros de estudos interdisciplinares na NSF sobre a ciência do aprendizado com dois grandes desafios: criar ciência integrada e fazer esse conhecimento útil a sociedade”, explicou. Essa nova ciência do aprendizado, afirma Soo-Siang Lim, é interdisciplinar por definição. “A ciência do aprendizado junta neurociência, psicologia, educação e até mesmo robótica e inteligência artificial. Por exemplo: uma criança aprende mais com uma pessoa do que com um vídeo da mesma pessoa ensinando o mesmo conteúdo. Entender a importância e singularidades da interação social é um grande desafio que envolve muitas disciplinas”, explicou.
A representante da NSF destacou a importância da integração no desenvolvimento da ciência interdisciplinar. “Nosso objetivo é começar a interdisciplinaridade em cada centro e expandir até construir uma comunidade. Queremos criar uma rede formada por uma nova geração de pesquisadores. A ambição do programa é bem grande, mas essa é uma marca da NSF”, disse. De acordo com Soo-Siang Lim, o plano inicial envolve o financiamento durante cinco anos e objetivo é que os centros continuem para além do apoio da NSF.