Entre 1991 e 2024, o Brasil registrou um cenário alarmante em relação aos desastres associados a extremos climáticos. De acordo com o Atlas Digital de Desastres, foram mais de 63 mil eventos nesse período, afetando 93% dos municípios do país. Os impactos humanos e econômicos são expressivos: mais de 5,4 mil mortes, 10,77 milhões de desalojados e desabrigados, 1,75 milhão de feridos e enfermos e 31,1 milhões de pessoas diretamente atingidas. Os prejuízos financeiros ultrapassam R$ 636 bilhões, sendo R$ 152 bilhões apenas em danos materiais, revelando a urgência de estratégias de adaptação mais eficazes e sustentáveis. Isso é o que discute artigo da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “Cidades e Meio Ambiente”.
Nesse contexto, as Soluções Baseadas na Natureza (SbN) vêm ganhando espaço como alternativa às tradicionais infraestruturas “cinza”, que incluem obras como piscinões, canalizações e muros de contenção. As SbN utilizam elementos naturais para promover benefícios ambientais, sociais e econômicos, reunindo práticas como infraestrutura verde urbana, corredores ecológicos e adaptação baseada em ecossistemas. Além de mitigar riscos como enchentes, deslizamentos e ilhas de calor, essas soluções contribuem para a biodiversidade, o bem-estar urbano e a resiliência climática, especialmente diante do aumento das temperaturas e da frequência de ondas de calor.
Entretanto, a adoção das SbN no Brasil enfrenta desafios significativos. A desigualdade socioespacial nas cidades brasileiras faz com que essas iniciativas se concentrem, muitas vezes, em áreas já beneficiadas por infraestrutura e serviços, deixando de alcançar periferias e comunidades mais vulneráveis. Evitar processos como a gentrificação verde, garantir a participação social e planejar essas intervenções sob a ótica da justiça socioambiental são pontos essenciais para que seus benefícios sejam distribuídos de forma equitativa. Experiências como o Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática de São Paulo mostram o potencial das SbN quando incorporadas ao planejamento urbano e à gestão de áreas sensíveis, como as zonas costeiras. “As cidades brasileiras são espaços marcados por segregações socioespaciais e amplas desigualdades”, pontuam Luciana Ferreira, pesquisadora no projeto Biota Síntese no Instituto de Estudos Avançados (IEA), e Gabriela Di Giulio, professora no Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública, ambos da USP.
Por fim, para que as SbN se consolidem como respostas estruturais à crise climática, é preciso avaliar não apenas seus custos de implementação, mas também os múltiplos benefícios que geram. Estudos apontam que cada dólar investido em adaptação pode gerar mais de US$ 10,50 em retornos econômicos, sociais e ambientais ao longo de uma década. Garantir a saúde e a resiliência da vegetação utilizada, mensurar seus impactos e ampliar a produção de indicadores são passos fundamentais para orientar políticas públicas e decisões estratégicas. “Os eventos climáticos extremos vêm gerando impactos negativos na saúde da população, nas condições de vida e nas infraestruturas essenciais”, alertam Luciana Ferreira e Gabriela di Giulio.
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