Carta aberta aos deputados da Alesp sobre o PL529/2020

“Enquanto nós, cientistas, temos que ser malabaristas nas múltiplas atividades que, recentemente, também inclui estar de olho nas artimanhas para nos tirar financiamentos, tanto no nível federal quanto estadual, nossos pares no exterior se dedicam à atividade de pesquisa sem ataques frontais por seus próprios governos”, escreve Marimelia Porcionatto, secretária Regional SBPC-SP subárea I e professora da Escola Paulista de Medicina da Unifesp

Veja abaixo a carta na íntegra:

CARTA ABERTA

Exmas/os Deputadas e Deputados,

Ontem, enquanto assistia ao debate acerca do PL529/2020 na ALESP, recebi a notificação de publicação de um trabalho científico sobre COVID-19 numa prestigiosa revista internacional relatando resultados similares ao que obtivemos no nosso laboratório, na Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. O projeto é financiado pela FAPESP, numa chamada especial para enfrentamento da COVID-19 e tem a participação de estudantes de pós-graduação e pós-doutores bolsistas da FAPESP.

Estamos bem próximos de concluir o trabalho e submetê-lo à avaliação por pares para publicação, mas já perdemos a originalidade e fiquei me perguntando o porquê da sensação de correr, correr, e chegar atrasada. Temos ideias originais, dispomos dos recursos humanos e materiais, da expertise, da infraestrutura institucional construída ao longo de décadas e isso nos aproxima dos melhores centros de pesquisa do mundo. Qual a diferença entre nós e eles?

Talvez a principal diferença seja que temos que estar alertas o tempo todo, não podemos usar nosso tempo em pensamentos e discussões de onde tiramos soluções para problemas simples ou complexos. Temos que estar alertas para manobras que nos tiram financiamentos com a desculpa de estar promovendo saneamento nas contas do Estado, como é o caso do PL529.

Enquanto nós, cientistas, temos que ser malabaristas nas múltiplas atividades que, recentemente, também inclui estar de olho nas artimanhas para nos tirar financiamentos, tanto no nível federal quanto estadual, nossos pares no exterior se dedicam à atividade de pesquisa sem ataques frontais por seus próprios governos. Ao contrário! Governos que realmente prezam a CIÊNCIA investem mais, não menos!

O Governador Dória se afeiçoou à ciência na pandemia, criando o bordão “nós seguimos a ciência”, que ele usa com frequência em suas falas.

Pois bem, senhoras e senhores Deputadas/os, se o PL529 passar não haverá ciência para seguir na próxima pandemia.

Atenciosamente,

Marimelia Porcionatto

Secretária Regional SBPC – SP subárea I

Professora Associada Livre Docente

Escola Paulista de Medicina – UNIFESP

Presidente da Sociedade Brasileira de Biologia Celular – SBBC

 

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