Cemaden é fundamental no enfrentamento de desastres naturais

Em seminário promovido pela SBPC, cientistas analisaram o papel do Centro e defenderam que o País adote uma política nacional de mitigação das vulnerabilidades frente às mudanças climáticas

24.02.2022 - evento Cemaden

Cientistas do clima reunidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) apontaram a necessidade de maior interação entre os diversos órgãos e instituições dedicadas ao monitoramento e a formulação de uma política nacional de mitigação das vulnerabilidades do país às mudanças climáticas.

Foi durante o 1º Seminário Online sobre o papel atual e futuro das Unidades de Pesquisas (UP) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), realizado nesta quinta-feira (24/2) com transmissão ao vivo pelo canal da SBPC no Youtube.

A UP analisada neste primeiro debate foi o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). O evento contou com a participação de Osvaldo Luiz de Moraes, diretor do Cemaden; Maria Assunção Faus da Silva Dias, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP); Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP) e Moacyr Araújo, coordenador da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) do MCTI e vice-Reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Osvaldo Moraes fez um relato sobre a história e o trabalho desenvolvido pelo Cemaden que foi criado em 2011, ano marcado pela primeira grande tragédia climática na região Serrana do Rio de Janeiro, repetida no início deste mês.

“Petrópolis deixa um grande aprendizado”, afirmou Moraes referindo-se à cidade fluminense mais afetada pelas tempestades de verão. Ele lembrou que houve um grande avanço dos sistemas de monitoramento desde a última tragédia na região em relação a ameaças vindas da natureza. Mas frisou que a efetividade desse trabalho só se completa com a combinação de medidas contra a “ameaça social”.

“Se não tivermos a capacidade de perceber adequadamente a ameaça social, paralelamente às ameaças da natureza, não estaremos sabendo como fazer a gestão de risco”, declarou o diretor do Cemaden.

O climatologista Carlos Nobre acrescentou que o desastre em Petrópolis confirma que os efeitos das mudanças climáticas tornam os eventos mais extremos e mais frequentes. Para ele, fica sublinhada a necessidade de aumentar os investimentos na ciência, nas universidades, em instituições como o Cemaden e na Rede Clima que mantem unida a comunidade científica contribuindo para a prevenção e soluções em desastres naturais.

No entanto, afirmou Nobre, é necessário tirar as pessoas das zonas mais afetadas. “As populações não podem continuar residindo em áreas de risco, têm que ser removidas”, reiterou.

Cientista da atmosfera, a professora sênior aposentada do IAG-USP, Maria Assunção Faus da Silva Dias, analisou pontos críticos da atuação do Cemaden e questionou o grau de interação operacional e de pesquisas entre o órgão e diversas outras instituições dedicadas a algum tipo de monitoramento climático. “Por que mais uma instituição federal tem rede de meteorologia se existem várias instituições como ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento), CPRM (Centro de Pesquisas de Recursos Minerais), Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), centros estaduais, Aeronáutica? Quando vamos conseguir unificar as redes? ”, indagou.

Coordenador da Rede Clima, o pesquisador Moacyr Araújo defendeu a criação de uma política nacional de redução de vulnerabilidades a desastres naturais, no modelo do Programa Nacional de Resíduos Sólidos. Implementado a partir de 2005, este programa teve bons resultados na meta de eliminar os lixões das grandes cidades, lembrou Araújo. “A gente precisa pegar exemplos que deram certo do ponto de vista de planejamento estratégico do estado brasileiro”.

“Independentemente da estrutura que temos, precisamos de um plano de longo prazo, uma política de estado brasileiro de prevenção às mudanças climáticas que vieram para ficar e estão se intensificando”, ressaltou o vice-presidente da SBPC, o físico Paulo Artaxo, que mediou o debate.

Missão institucional

Este foi o primeiro de uma série de seminários que a SBPC vai organizar ao longo de 2022, convidando cada uma das 16 UPs do MCTI para apresentar e discutir a sua missão institucional com uma visão de passado, presente e reflexões para o futuro. A expectativa é que esses seminários aumentem a visibilidade dos institutos do MCTI e sejam um ponto de discussão frutífera para novos desafios.

Para o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, a série de debates é importante não apenas para discutir os problemas que atingem as instituições de pesquisa brasileiras, mas também para que as pessoas as conheçam. “Temos instituições que estão fazendo um trabalho muito importante para o Brasil”, afirmou Ribeiro na abertura do debate sobre o Cemaden.

Assista ao seminário na íntegra pelo canal da SBPC no Youtube.

Jornal da Ciência