Cidade resiliente é muito mais que digitalização, diz especialista

Secretário de Inovação e Desenvolvimento Econômico conta como São José dos Campos melhorou indicadores e se destacou mundialmente com programa de sustentabilidade

O município paulista de São José dos Campos (SJC), a 80 km da capital, exibe indicadores dignos de país de primeiro mundo em termos de saúde, educação e segurança entre outros. Seus quase 700 mil habitantes desfrutam de um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,8, bem acima da média nacional e, do ponto de vista de sustentabilidade, a cidade é considerada uma das mais resilientes do mundo, o que lhe rendeu o selo do Programa Tree Cities of the World, da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2021.

Nessa quinta-feira (11/7), o secretário de Inovação e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de SJC, Alberto Marques Filho, apresentou a experiência da cidade para a conferência “Cidades Inteligentes, Resilientes e Sustentáveis”, na programação da 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belém (PA). O evento foi apresentado pelo cientista Glaucius Oliva, do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP).

Engenheiro Naval de formação, Marques Filho já havia ocupado a Secretaria Municipal de Educação da cidade e tem conduzido as ações em São José dos Campos, que têm a sustentabilidade como um dos principais pilares.

Marques admitiu que a infraestrutura instalada de Tecnologia, Informação e Comunicação (TIC), com quase 700 km de fibras óticas espalhadas pela cidade para atender a demanda de conectividade do polo tecnológico e aeroespacial, é fundamental para aumentar a agilidade e eficiência dos serviços públicos. SJC é sede da Embraer, do Centro de Tecnologia Aeronáutica (CTA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre outros laboratórios e universidades de ponta.

Segundo ele, a prefeitura disponibiliza “dúzias de aplicativos” para os mais diversos serviços públicos, sendo 90% já digitalizados. “Só a economia com papel, toner e aluguel de impressoras paga isso”, disse. Neste momento, está em testes um dispensário eletrônico de medicamentos da UBS que possibilitará à população retirar medicamentos nos finais de semana quando as UBS estão fechadas.

Mas ele frisou que tecnologia não é o posto-chave e sim a gestão. “Tecnologia é uma parte da conversa, existem outras partes tão ou mais relevantes. Por exemplo, não dá para falar em cidades inteligentes, sustentáveis e resilientes se elas não tiverem cobertura 100% de saneamento básico.”

O projeto para elevar inteligência e resiliência na cidade começou a ser implementado em 2018, com um grupo de trabalho que envolveu 54 pessoas e durou um ano e meio. Tendo como referência especificações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), foram levantados 276 indicadores entre eles qualidade de vida, sustentabilidade ambiental, tecnologia aplicada aos serviços e processos de gestão para o enfrentamento a problemas como pandemia ou enchentes.

“Levantamos esses indicadores na nossa cidade, tivemos que fazer um monte de ações e conseguimos quase todos”, afirmou. No segundo momento, uma consultoria foi contratada para organizar os dados, leva-los para uma plataforma e apresenta-los para auditoria da ABNT.

Em 2022 SJC foi certificada como a primeira Cidade Inteligente do Brasil. “O mais importante é que possibilitou construir um mapa que orienta os próximos gestores para investir na melhoria dos indicadores em que não foram atingidos elevados níveis. O prefeito tem que ser profundamente comprometido com a cidade e dar o melhor de si e essa corrida deve ter ciência, inteligência estratégica envolvida”, resumiu.

Assista à conferência na íntegra pelo canal da UFPA no Youtube

Janes Rocha – Jornal da Ciência