Na próxima semana, delegações de 200 países estarão reunidas na cidade de Glasgow, na Escócia, para a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), evento considerado crucial para discutir caminhos para lidar com os efeitos do aquecimento global.
A ciência tem um papel fundamental nesse debate, como explicou Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Foram os cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês) – do qual Artaxo é membro e colaborador – que apontaram a emergência da situação climática do planeta e os riscos que já estão afetando a humanidade e vão impactar mais ainda no futuro próximo.
Durante a conferência “A Ciência das Mudanças Climáticas Globais”, atividade realizada durante a “Mobilização em Defesa da Ciência”, na última terça-feira (26/10), Artaxo deu uma verdadeira aula sobre o trabalho do IPCC e suas descobertas.
Falou que o planeta passa por muitas mudanças – aquecimento global, acidificação dos oceanos, perda de biodiversidade, etc. – e que a ciência tem que responder: “quais os impactos dessas mudanças?” A resposta está no Sexto Relatório de Análise (AR6 na sigla em inglês) do IPCC, divulgado, em parte, no início de agosto.
Produzido a partir da contribuição de 234 autores principais (com 517 colaboradores) de 66 países (sete deles do Brasil), o relatório traz dados comprovando que as mudanças recentes do clima são “generalizadas, rápidas e intensificadas e sem precedentes em pelo menos 6.500 anos”. Artaxo explicou que o foco do relatório é na redução da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) e destacou alguns dos pontos principais do documento.
Um deles é que “a menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala das emissões de gases de efeito estufa, limitar o aquecimento a 2°C pode ser impossível”. Este é o limite estabelecido pelo Acordo de Paris, em 2015.
Segundo o cientista, o Brasil já está sofrendo as consequências do aquecimento global, com a seca na região Central do país, uma das mais severas da história. “Nos cenários traçados pelo IPCC, o Brasil vai se tornar mais seco de acordo com os modelos climáticos, da ordem de -20% a -30% menos de chuva que temos atualmente. Isso vai trazer prejuízos muito importantes, particularmente para a umidade do solo que é fundamental para a agricultura”.
Artaxo destacou a relevância da preservação da Amazônia para a redução dos GEE. “Uma lição importante é que a relação da Amazônia e as mudanças climáticas globais é uma razão de dois caminhos: a Amazônia impacta no clima global pelo desmatamento e a emissão de carbono, e o clima global impacta fortemente na Amazônia por causa da degradação florestal causada pela alteração na chuva e aumento da precipitação”, explicou.
O objetivo da “Mobilização em defesa da Ciência” é pressionar o governo e os parlamentares pela recomposição do orçamento da CT&I. O Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) é hoje a principal fonte de financiamento da pesquisa científica no país. O corte e contingenciamento das verbas do FNDCT prejudicam principalmente o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que perdeu mais de R$ 600 milhões de seu orçamento. As entidades também solicitam a liberação dos R$ 2,7 bilhões que ainda restam do FNDCT no ano em curso.
Assista à apresentação do professor Paulo Artaxo na íntegra, no canal da SBPC no Youtube.
Jornal da Ciência