O neurocientista Sidarta Ribeiro afirmou nessa segunda-feira, 6 de janeiro, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que a ciência brasileira vive um “verdadeiro pesadelo” e um grande retrocesso. Mas também destacou que existe hoje no País um debate muito mais aprofundado sobre qual projeto queremos, qual a vocação do Brasil, se apenas produzir e vender soja e minério ou produzir conhecimento e capital humano. “Nesse ponto estou otimista, o Brasil é muito grande, não tem porque não sermos um grande país”, afirmou.
Vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Ribeiro é autor do livro “O oráculo da noite: A história e a ciência do sonho”, resultado de suas pesquisas sobre o sono e o sonho, que foi um dos temas principais da entrevista, assim como a situação atual da ciência no Brasil.
Diretor da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o neurocientista afirmou que o investimento em ciência aumentou muito na primeira década deste século e estava a caminho de atingir o equivalente ao que aplicam os países desenvolvidos, quando sofreu uma drástica parada já no fim de 2015, situação agravada no governo atual. “Agora fizemos um caminho reverso, de volta ao investimento de 20 anos atrás”. Ele reiterou que o País só tem solução com investimentos em educação em todos os níveis. “As pessoas que pensam o contrário deveriam estudar um pouco o que aconteceu com nossos vizinhos e o que acontece nos países desenvolvidos”.
Questionado sobre a falta de uma “bancada” em defesa da ciência no parlamento, Sidarta Ribeiro falou sobre a articulação da SBPC com outras entidades ligadas à Ciência e Tecnologia (C&T) para aproximação com o Congresso, referindo-se à Iniciativa Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br), lançada no ano passado. Explicou que a iniciativa é resultado de duas gestões da SBPC muito ativas, com a ex-presidente Helena Nader, e agora na presidência de Ildeu Moreira, que aprofundou essa aproximação.
“A ideia é que ciência seja política de Estado”, justificou, explicando que existe um marco legal para C&T que não foi ainda bem implementado, e que o setor de C&T não pode estar à mercê deste ou daquele governo. “Todos que se dizem patriotas, colocam a mão no peito e dizem que querem um país decente, têm que compreender que estamos falando de mudanças estruturais”.
Sidarta Ribeiro foi entrevistado pelos jornalistas Bernardo Esteves, da Revista Piauí; Reinaldo José Lopes, do jornal Folha de São Paulo; Daniel Fernandes, editor do Núcleo Metrópole do jornal O Estado de São Paulo; Danilo Thomaz, do jornal Valor Econômico e Alexandre Versignassi, diretor de Redação da revista Superinteressante, sob a condução da apresentadora Daniela Lima.
Assista a entrevista na íntegra aqui.
Janes Rocha – Jornal da Ciência