O recente alerta da Capes para um possível corte de milhares de bolsas de pós-graduação acendeu o sinal vermelho na Ciência brasileira. A Sputnik Brasil ouviu 3 importantes cientistas brasileiros, além de um estudante de doutorado para explicar a situação.
Na quinta-feira (2), os pesquisadores e estudantes universitários do Brasil estremeceram diante de um ofício da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pressionando o Ministério da Educação para que agisse com o governo federal e evitasse que o presidente Michel Temer usasse o veto sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2019, aprovada no Congresso Nacional.
A Capes foi enfática e alertou para o risco de corte de centenas de milhares de bolsas na pós graduação brasileira, o que iria virtualmente paralisar a pesquisa no País.
O alerta funcionou e na noite da terça-feira (14) a equipe do Ministério do Planejamento anunciou a manutenção do texto aprovado pelo Congresso Nacional, mantendo um artigo garantindo o orçamento do ano anterior e contrariando a Emenda Constitucional 95 (EC-95), a famosa PEC do teto de gastos.
A LDO, no entanto, ainda servirá como base para a proposta da Lei Orçamentária Anual (LOA), e principalmente, os anos seguintes, não importa o aumento das áreas, terão que seguir a regra à risca. No caso deste ano, segundo o governo federal, as verbas da Capes serão custeadas com o deslocamento de verbas de outros setores.
Para os pesquisadores ouvidos pela Sputnik Brasil, o cenário que se aproxima é “trágico”.
“Nós estamos em uma guerra”
Vanderlan Bolzani é doutora em Química e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), além de professora na Universidade Estadual Paulista (Unesp). A crise não é simples de se explicar, mas para esta professora isso é justamente porque é uma crise de raízes históricas.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Bolzani disse acreditar que é preciso observar que o sistema de ensino superior e pesquisa do Brasil é considerado recente em relação aos países desenvolvidos, e que isso coloca o País em uma posição de vulnerabilidade.
Enquanto em outros países, mesmo vizinhos, as universidades são centenárias, no Brasil, as instituições mais antigas não chegam a tanto, como é o caso da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de 1920, e da Universidade de São Paulo, de 1934.
Mesmo assim, ela afirma, o Brasil pode se orgulhar da Ciência que pratica, e que o investimento na área é essencial pois tem sido a Ciência o grande motor da humanidade.
“Nós podemos nos orgulhar que nós somos um país respeitado no mundo inteiro por termos uma fonte renovável de energia, ter carros altamente tecnológicos com tecnologia etanol. Isso é uma coisa fascinante”, afirma a pesquisadora.
No entanto, segundo ela, a Ciência tem sido vista como um gasto quando na verdade se trata de um investimento, o que outros países já compreendem há muito tempo. E a prova, ainda segundo ela, são os próprios frutos colhidos da pesquisa. Para ela, trata-se, no Brasil, de um projeto contra o povo:
“Nós estamos em uma guerra, e se estamos em uma guerra, os inimigos estão aqui mesmo. E isso é muito sério”, aponta a professora Varderlan.
Apesar de acreditar que as universidades são elitizadas, ela ressalta uma posição contrária à privatização, tanto da universidade como da pós-graduação.
Ela se afirmou contra as declarações do candidato à Presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB), que afirmou em entrevista recente ser favorável ao estabelecimento de mensalidades na pós-graduação brasileira, mesmo não sendo o único candidato a defender a ideia.
“Mensalidade robusta não faz universidade boa em lugar nenhum do mundo. É muito investimento e investimento é público. Se você vem dos Estados Unidos, na próxima semana eu vou a Harvard, o grande investimento daquela universidade vem do governo, nem que sejam as mensalidades de não sei quantos mil dólares”, enfatiza a vice-presidente da SBPC.
Para ela, assim como para a organização que representa, o País precisa criar formas de investimento permanente que não fiquem à mercê da vontade dos governos.
“Qualquer país que queira ter uma estrutura mínima e favorável à sua sociedade, tem que ter políticas de Estado mínimas. Políticas de Estado! Aqui não, aqui são políticas do governo A e do governo B. O custo disso é terrível”, aponta.
Para ela, esse tipo de investimento é uma solução a longo prazo para o desenvolvimento e que países como a China, hoje colhem os frutos do investimento na Ciência.
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