A ciência brasileira, tão desprezada e atacada nos últimos anos pelo governo Bolsonaro, pode entrar em colapso e sofrer ainda mais com a falta de recursos e investimentos. A previsão de orçamento para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) em 2021 é 34% menor do que em 2020. No ano passado, o orçamento do ministério já havia perdido 15% em relação a 2019.
O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, afirma que além dos cortes que tem se acentuado desde 2015, neste ano o orçamento está com cortes adicionais. “O investimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações tem um corte maior ainda. Isso significa que o ministério vai ter para investimento em ciência e tecnologia algo da ordem de R$ 2,7 bilhões. Isso é o que está previsto no orçamento, senão for mudado. É um terço a menos do que tínhamos no ano passado.”
“É um cenário bem dramático”, diz Flávia Calé, presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG) sobre o risco da ciência no país entrar em colapso. “Estamos à beira de um apagão da ciência. O alento que temos é que conseguimos aprovar o PLC 135 (Projeto de Lei Complementar), que libera os recursos contingenciados do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e que ainda está no aguardo da sanção presidencial.”
Recursos para bolsas
O corte orçamentário vai se refletir na pesquisa e no financiamento de bolsas de estudos, mostra reportagem de Jô Miyagui na edição desta terça-feira (5), no Seu Jornal, da TVT. “Isso se reflete no orçamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)”, afirma o presidente da SBPC.
O CNPq é a agência fundamental de financiamento de ensino e pesquisa no Brasil. “Haverá uma redução de cerca de 8% dos recursos para bolsas. O recurso para fomento à pesquisa está extremamente reduzido, em R$ 22 milhões, que é um valor ridículo”, afirma Moreira.
O CNPQ tinha na proposta orçamentária para 2020 R$ 1,3 bilhão, lembra Flávia. E nessa proposta para 2021 são R$ 560 milhões. “Isso significa que o CNPQ pode pagar quatro meses de bolsas apenas”, destaca.