A ciência mundial, em esforço conjunto com a indústria farmacêutica e colaboração de todos os órgãos da sociedade, venceu um dos desafios da pandemia do novo coronavírus que era desenvolver vacinas em um tempo recorde, afirmou a médica Ana Maria de Brito, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Brito falou durante a conferência “A Pandemia e a importância da Ciência”, evento virtual promovido pela Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em Pernambuco (SBPC-PE), evento que marca os 70 anos de fundação da regional.
Além de Brito, participaram da conferência Bernadete Perez, docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), e Jones Albuquerque, professor associado da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA-UFPE).
Ana Maria de Brito traçou um amplo panorama da situação da covid-19 e das vacinas, no Brasil e no mundo. Segundo ela, hoje existem mais de 175 vacinas em estudos pré-clínicos registradas na Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo 19 em fase 1 (ensaio clínico), 25 em fase dois; 21 em fase três e um total de dez já em uso em vários países, com as mais diferentes tecnologias.
O Brasil, no entanto, não está se beneficiando de todo esse avanço, alertou, porque o País não se preparou, não fez os acordos de compra com as farmacêuticas, e as poucas doses disponíveis foram distribuídas de forma pulverizada, sem considerar o perfil de contaminação. “É como enxugar gelo”, criticou a médica.
Bernadete Perez chamou a atenção para a insuficiência das ações de caráter puramente técnico no combate à covid-19, que não levam em consideração a desigualdade social. “Temos visto respostas pautadas quase exclusivamente em leitos provisórios, monitores, respiradores, kits testes, kit covid sem eficácia, modelos lógicos e previsões matemáticas que são importantes, mas combinado com as outras dimensões do enfrentamento dessa pandemia”, afirmou a vice-presidente da Abrasco. Para ela, é fundamental pensar em um plano de resposta articulada, considerando características territoriais e comunitárias. “Não é possível a perpetuação de respostas globais pautadas em um humanitarismo que intensifica desigualdades”, disse Perez.
Jones Albuquerque (UFRPE) observou o mal-uso que tem sido feito das métricas matemáticas na epidemiologia. Tomando como exemplo a “taxa R”, que tem sido usada para indicar o potencial de propagação do vírus em determinadas condições, Albuquerque explicou que, por exemplo, no caso da capital pernambucana, o “R” indica baixa propagação, no momento em que a cidade está em plena alta de contaminação e mortes. “Talvez estejamos tirando conclusões em cima de dados, não do fenômeno”, alertou.
Contribuição de Pernambuco
O presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, abriu a Conferência “A Pandemia e a Importância da Ciência”, que foi conduzido pela secretária regional Maria do Carmo F. Soares. Moreira lembrou que Pernambuco sediou cinco reuniões anuais da SBPC (1955, 1974, 1993, 2003 e 2013) e que foi nestes encontros realizados no Estado que surgiram iniciativas novas como a SBPC Jovem, a SBPC Educação e a Expotec, até hoje incorporados às reuniões anuais.
Assista à Conferência “A Pandemia e a Importância da Ciência” no canal Oficial Economia UFRPE-NEI
Jornal da Ciência