Cientista defende política nacional contra efeitos sociais de desastres naturais

Em debate da SBPC, Moacyr Araújo, da Rede Clima, defende política de Estado, com aval da ciência, para evitar tragédias como de Petrópolis

Tragédias causadas por desastres naturais, como as chuvas sobre Petrópolis (RJ) na última semana, que deixaram pelo menos 210 mortos, poderão ser evitadas com a criação de uma política nacional de combate às vulnerabilidades. A opinião é do oceanógrafo Moacyr Araújo, coordenador da Rede Clima do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e vice reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“A política nacional de resíduos sólidos está permitindo acabar com lixões no país. Então temos de pegar exemplos que deram certo”, disse o cientista em debate realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) nesta quinta-feira (24).

Conforme disse Araújo, caberia às entidades que aglutinam cientistas dos mais diversos campos, como a própria SBPC e a Academia Brasileira de Ciência (ABC), oferecer subsídios na construção dessa política. “A gente precisa sim enveredar por esse caminho, para essa política”, enfatizou.

Desastres naturais e mudanças climáticas

Professor do Instituto de Física da USP e vice-presidente da SBPC, o climatologista Paulo Artaxo defedeu que as mudanças climáticas – que têm influência em chuvas como as que castigaram Petrópolis, o sul da Bahia e Franco da Rocha, entre outras localidades, matando centenas de pessoas e deixando milhares sem casa – estejam no centro das políticas públicas.

“Independentemente do Inpe e do Cemaden, temos de ter uma política de Estado, um plano de longo prazo, voltado à questão das mudanças climáticas que vieram para ficar e estão se intensificando”, disse.

O climatologista Carlos Nobre defendeu a adoção de estratégias baseadas na própria natureza para evitar impactos sobre as populações mais vulneráveis. É o caso de reflorestamento com espécies vegetais adequadas às especificidades do relevo, capazes de escoar rapidamente a água da chuva antes que encharquem o solo.

“Se a gente olhar para o Plano Plurianual feito em 2014, dos R$ 17 bilhões previstos para respostas a desastres naturais, 85% eram destinados a obras de engenharia, uma visão equivocada. Para a recuperação florestal foi destinado zero”, disse Nobre.

Rede Brasil Atual