Clima em crise: a nova realidade dos eventos extremos

Especialistas discutem como as mudanças climáticas intensificam a frequência e a gravidade dos desastres naturais em conferência da 76a Reunião Anual da SBPC
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Foto: UFPA

As mudanças climáticas estão intensificando a frequência e a gravidade dos eventos climáticos extremos, impactando desproporcionalmente as populações mais vulneráveis. Inundações devastadoras, ondas de calor intensas e furacões cada vez mais poderosos são apenas alguns dos fenômenos que se tornaram mais comuns. Esse foi o tema da conferência “Eventos climáticos extremos e as vulnerabilidades do Brasil”, realizada nesta sexta-feira (12/07) durante a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece de 7 a 13 de julho na Universidade Federal do Pará (UFPA).

A conferência foi coordenada por Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e apresentada por Tércio Ambrizzi, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP).

Paulo Artaxo destacou a extrema relevância do tema, não apenas para os tempos atuais, mas também para o futuro da Amazônia como um todo, enfatizando os enormes impactos socioeconômicos envolvidos. “Precisamos nos preparar para essa realidade. Não é algo que ocorrerá no futuro, é algo que já está acontecendo agora”, alertou. Ele ressaltou a importância de um plano de adaptação abrangente, que contemple os níveis nacional, estadual e municipal, considerando as particularidades e necessidades de cada região. “O enfrentamento das mudanças climáticas começa pelas cidades, pelos municípios. Temos eleições este ano e precisamos usar nosso poder como educadores para formar candidatos comprometidos em proteger a população desses eventos”, afirmou.

Para Tércio Ambrizzi, é indiscutível que os eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes e intensos. Ele lembrou de casos como o inverno extremo na Califórnia, nos Estados Unidos, com volumes recordes de neve e chuva; as ondas de calor e a seca severa na Europa; e o ciclone Freddy, que atravessou o Oceano Índico Sul por mais de cinco semanas e bateu o recorde de duração de um ciclone tropical, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). No Brasil, houve inundações em Santa Catarina, chuvas intensas e deslizamentos em São Sebastião, no litoral de São Paulo, e uma forte onda de calor no Rio Grande do Sul. E tudo isso apenas no ano passado. Este ano, o caso mais emblemático foram as inundações ao longo de maio no Rio Grande do Sul. “O número de desastres naturais, como secas e inundações, apresenta uma tendência de aumento. Esses eventos extremos estão se tornando comprovadamente mais frequentes e intensos”, afirmou.

O pesquisador explicou que existem várias evidências de que o clima está mudando: não apenas as temperaturas estão aumentando, mas os oceanos estão absorvendo esse calor; as áreas de gelo, as calotas polares, o gelo do Ártico e a cobertura de neve estão reduzindo; o que leva ao aumento do nível do mar, da incidência de eventos extremos e da acidificação dos oceanos. E essas modificações no clima são causadas pela ação humana, seja modificando as nascentes dos rios, com fábricas que emitem gases de efeito estufa, seja pelo consumo excessivo, que leva à produção em grande escala, gerando uma quantidade absurda de lixo, ou ainda pelo grande número de carros. “É indiscutível que as atividades humanas estão causando mudanças climáticas, tornando eventos climáticos extremos, incluindo ondas de calor, secas e chuvas fortes, mais frequentes e severos”, pontuou. “A menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala na emissão de gases de efeito estufa, limitar o aquecimento a 1,5 °C pode ser impossível”.

Nesse cenário, a preservação das florestas é fundamental — especialmente a Amazônia, que é extremamente importante no contexto da mudança climática porque as árvores absorvem o carbono extra. Ao desmatar e alterar a floresta, estamos alterando todo o planeta. “A Amazônia é crítica para o transporte de vapor de água para o Brasil central e sul. É uma fábrica de chuvas. Se você tem menos árvores, você tem menos chuvas e aumenta o calor, e isso vai se propagando”, explicou. Para ele, é preciso não apenas preservar as florestas, mas também ter uma agricultura de baixo carbono, cuidar das cidades, tornando-as mais sustentáveis e habitáveis, e preservar os oceanos. “Quando pensamos em termos de eventos extremos, precisamos investir hoje para um futuro mais seguro. Se isso não ocorrer agora, infelizmente, não teremos um futuro”, alertou.

Assista à conferência na íntegra:

https://www.youtube.com/watch?v=RPBz2mO4Lxw

Chris Bueno Jornal da Ciência