O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) realizou na noite dessa quarta-feira, 23 de setembro, a cerimônia virtual de entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, durante sessão solene da Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC). A grande vencedora da edição de 2020 foi a biomédica Helena Bonciani Nader, na categoria Ciências da Vida. O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira, foi um dos agraciados na categoria “Menção Especial de Agradecimentos”, que é concedida a pessoas físicas ou jurídicas em reconhecimento aos significativos serviços prestados ao crescimento, desenvolvimento, aprimoramento e divulgação do CNPq no ano anterior.
Compôs a mesa de honra da cerimônia o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, o comandante da Marinha do Brasil, almirante-de-esquadra Ilques Barbosa Junior, acompanhado do diretor geral de desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, o almirante de esquadra Marcos Sampaio, o presidente do CNPq, Evaldo Ferreira Vilela, o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Benedito Aguiar Neto, o presidente da ABC, Luiz Davidovich, o diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel (FCW), Helio Levisky, e o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o general Waldemar Barroso Magno Neto.
Concedido pelo CNPq, em parceria com a FCW e a Marinha do Brasil, o Prêmio Almirante Álvaro Alberto reconhece a contribuição de pesquisadores que promoveram o progresso de sua área do conhecimento. Instituído em 1981, é oferecido anualmente em sistema de rodízio a uma das três grandes áreas: Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes; e Ciências da Vida.
Formada em ciências biomédicas pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 1970, e em biologia pela Universidade de São Paulo (USP) no ano seguinte, Helena Nader doutorou-se em Biologia Molecular pela Unifesp, em 1974, pós-doutorado na University of Southern California, em 1977, com bolsa da Fogarty (NIH). Atualmente Nader é professora titular da Unifesp, presidente de honra da SBPC e vice-presidente da ABC.
Em fevereiro deste ano, no Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, Nader foi a primeira cientista a receber da SBPC o Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher por sua contribuição para o avanço da ciência no País. Em 2002, ela foi agraciada com o título de Comendador e Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Além da trajetória científica, ela também é uma ferrenha defensora da ciência e da educação brasileira. Sua atuação incessante foi marcada nos últimos anos por sua participação na Diretoria da SBPC, onde ela foi a terceira mulher a presidir a entidade, entre 2011 e 2017.
Durante seu agradecimento, Nader enfatizou a importância do Almirante Álvaro Alberto, que criou o Prêmio, para o desenvolvimento da ciência brasileira e disse que a crise causada pela pandemia do novo coronavírus serviu para chamar a atenção para o valor da ciência desenvolvida no País e para o necessário fortalecimento de políticas públicas de apoio à construção de conhecimento científico. “A ciência brasileira, apesar de subfinanciada, tem mostrado sua força com a produção de insumos para testes gnômicos e imunológicos, aplicação de testes, desenvolvimento de novos testes diagnósticos, busca de novos fármacos e reposicionamento de drogas, ensaios clínicos, desenvolvimento de vacinas, testes clínicos de vacinas produzidas no exterior, desenvolvimento de ventiladores, entre tantos outros exemplos”, citou. E acrescentou que, mesmo durante essa crise sanitária e ambiental, o Brasil continua a assistir à negação da ciência, a proliferação de notícias falsas, ao descrédito das recomendações da ciência e ao desrespeito com o outro.
Nader também lamentou a falta de recursos no Brasil mesmo diante da pandemia. “Enquanto países desenvolvidos como Estados Unidos e China e outros em desenvolvimentos, como Costa Rica e Uruguai, aumentaram seus investimentos em ciência e educação para o enfrentamento na pandemia, no Brasil o que se vê é uma redução ainda maior de recursos. Infelizmente aqui, diferente desses países, a educação e CT&I continuam sendo encarados como gastos e não como investimento. Falta ao País o cumprimento da política de Estado para educação e CT&I e infelizmente essa postura ocorre em todos os níveis, municipal, estadual e federal”, lamentou.
O presidente do CNPq, Evaldo Ferreira Vilela, disse que o Prêmio é uma oportunidade ímpar não só de homenagear pessoas e instituições que tanto contribuíram para o fortalecimento científico e tecnológico do País, mas acima de tudo, para celebrar a excelência da ciência brasileira. “Este prêmio, além de ser o mais importante reconhecimento do CNPq, é uma homenagem à memória do Almirante Álvaro Alberto, que foi o responsável por concretizar a concepção de uma estrutura central de investimento em pesquisa no Brasil em uma época em que, num mundo pós-guerra, consolidou-se a ideia de que o conhecimento e a tecnologia produzidos pela ciência geram desenvolvimento e soberania aos países”, disse.
Vilela também destacou a importância da ciência nos dias atuais para o enfrentamento do novo coronavírus. “Essa batalha lança um olhar do mundo para a ciência na busca conjunta de uma solução global para o inimigo comum que é o novo coronavírus. Existe uma ideia consolidada de que só a ciência é capaz de trazer soluções eficazes e confiáveis, capazes de promover o bem comum, qualidade de vida, desenvolvimento e soberania”, disse.
Para o diretor-presidente da FCW, Helio Levisky, Helena Nader é merecedora do Prêmio por seu incansável empenho pelo desenvolvimento científico no Brasil. “Ela é uma referência na ciência brasileira, haja vista seus estudos relacionados à heparina, sem contar sua luta pela ciência brasileira”, citou.
Já o comandante da Marinha do Brasil, almirante de esquadra Ilques Barbosa Junior, ressaltou o papel importante do Almirante Álvaro Alberto para o desenvolvimento e fortalecimento dos pilares da ciência no País e o sucesso da parceria da execução de mais uma edição do Prêmio.
Ao encerrar a sessão solene da Reunião Magna da ABC, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações parabenizou Helena Nader pela premiação e ressaltou que ela é “uma guerreira que tanto contribui, contribuiu e contribuirá para a ciência brasileira”. Pontes também ressaltou que a pandemia do novo coronavírus trouxe luz ao papel da ciência e que ela tem sido observada como a única ferramenta para livrar o mundo da covid-19.
Outras homenagens
Durante a cerimônia foram anunciados, também, os contemplados com os títulos de Pesquisador Emérito, concedido pelo CNPq ao pesquisador brasileiro ou estrangeiro, radicado no Brasil há pelo menos dez anos, pelo conjunto de sua obra científico-tecnológica e por seu renome junto à comunidade científica, e as Menções Especiais de Agradecimentos.
Os cientistas brasileiros homenageados com o título de Pesquisador Emérito neste ano são: o linguista Carlos Vogt, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-presidente da Fapesp; o físico Carlos Henrique de Brito Cruz, também professor da Unicamp e diretor científico da Fapesp; o agrônomo e consultor Celso Foelkel; o bioquímico Hernan Chaimovich, do Instituto de Química da USP e ex-presidente do CNPq; o médico Frederico Graeff, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP em Ribeirão Preto; o matemático Jacob Palis, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa); o bioquímico Jaime Rabi, diretor da empresa Microbiológica, Química e Farmacêutica; o engenheiro Luiz Bevilácqua, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e a professora de literatura Marisa Lajolo, da Unicamp.
Na Menção Especial de Agradecimentos, além do presidente da SBPC, foram agraciados a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto Serrapilheira, o senador Izalci Lucas, o presidente da ABC, Luiz Davidovich, e Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho de Administração da Embrapii.
Veja aqui a cerimônia na íntegra.
Jornal da Ciência